Mesmo que mantenha um volume constante de lançamentos, remixes e parcerias com diferentes artistas, DJ Koze costuma levar anos entre um álbum e outro. E isso tem um motivo. Na contramão dos principais nomes da cena eletrônica, sempre movidos pela urgência das batidas, o artista de Flensburg, Alemanha, avança em uma medida particular de tempo, fazendo de cada faixa a passagem para um mundo mágico.

Exemplo disso fica ainda mais do que evidente quanto mergulhamos nas canções de Music Can Hear Us (2025, Pampa). Sequência ao bem-recebido Knock Knock (2018), possivelmente o registro mais comercial da carreira de Koze, o trabalho de mais de 60 minutos de duração ganha forma aos poucos, sem pressa. São ambientações sutis, batidas sempre calculadas e vozes que se projetam de forma quase instrumental.

A própria sequência de abertura, formada por The Universe In A Nutshell e as colaborativas Pure Love e Der Fall, com vozes de Damon Albarn e Sophia Kennedy, respectivamente, torna isso claro. É como se Koze eliminasse qualquer traço de euforia para se aprofundar em um repertório que alterna entre a dança e a contemplação, conceito que tem sido aprimorado desde o amadurecimento artístico em Amygdala (2013).

E como ele faz isso bem. Em Tu Dime Cuando, por exemplo, vozes enevoadas da peruana Sofia Kourtesis convidam o ouvinte a flutuar. Já em What About Us, com os conterrâneos da banda The Notwist, versos consumidos pelos sentimentos abrem espaço para uma delicada combinação de batidas e sintetizadores etéreos. Mesmo velhas conhecidas, como Unbelievable, com a amiga Ada, e Wie Schön Du Bist, ganham novo significado dentro do disco, destacando o domínio criativo de Koze em relação ao próprio trabalho.

Se por um lado essa suavidade excessiva que orienta a porção inicial do trabalho pode afastar o ouvinte mais apressado, por outro, torna os momentos de maior euforia ainda mais interessantes e preciosos. Com mais de oito minutos de duração e batidas em destaque, Buschtaxi talvez seja o principal exemplo disso. A própria Brushcutter, inusitada parceria com o rapper Marley Waters, é outra que evidencia essa urgência.

Dividido entre momentos de calmaria e exaltação que conduzem o ouvinte em direção às pistas, Music Can Hear Us talvez seja o trabalho que melhor transporta para dentro de estúdio a complexidade que marca as sempre imprevisíveis apresentações ao vivo de Koze. Um registro que, naturalmente, exige a dedicação e tempo por parte do ouvinte, porém, o gratifica tanto nos instantes de recolhimento como nos de libertação.

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