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Crítica

DJ Seinfeld

: "Mirrors"

Ano: 2021

Selo: Ninja Tune

Gênero: Eletrônica, Lo-Fi House

Para quem gosta de: Ross From Friends e DJ Boring

Ouça: These Things Will Come To Be e She Loves Me

7.4
7.4

DJ Seinfeld: “Mirrors”

Ano: 2021

Selo: Ninja Tune

Gênero: Eletrônica, Lo-Fi House

Para quem gosta de: Ross From Friends e DJ Boring

Ouça: These Things Will Come To Be e She Loves Me

/ Por: Cleber Facchi 24/09/2021

Parte importante de uma frente de novos artistas que vêm ressignificando a música eletrônica ao longo da última década, como Ross From Friends e DJ Boring, Armand Jakobsson, o DJ Seinfeld, lançou há quatro anos o introdutório Time Spent Away From U (2017). No repertório, composições como How U Make Me Feel, I Saw Her Kiss Him in Front of Me and I Was Like Wtf? e uma série de outros registros que estabelecem no uso fragmentado das batidas, vozes e captações sujas a passagem para um território estranhamente dançante, conceito que se reflete nas criações de outros representantes do famigerado lo-fi house.

Sem necessariamente romper com essa estrutura, porém, provando de novas possibilidades criativas, o produtor de origem sueca entrega ao público o segundo álbum e inéditas da carreira, Mirrors (2021, Ninja Tunes). Pronto para as pistas, como tudo aquilo que Jakobsson tem produzido desde os primeiros registros autorais, o trabalho de dez faixas encanta pela forma como o artista resgata a essência empoeirada do disco anterior na mesma medida em que evidencia um maior refinamento melódico. São camadas de sintetizadores e batidas que rapidamente convidam o ouvinte a dançar, marca das canções de DJ Seinfeld.

E isso fica bastante evidente no que talvez seja a principal faixa do disco, These Things Will Come To Be. Uma das primeiras músicas do álbum a serem apresentadas ao público, a canção ganha forma em uma medida própria de tempo, valorizando cada mínimo componente revelado por Jakobsson. São diferentes andamentos rítmicos, fragmentos percussivos e atravessamentos que refletem o direcionamento curioso do artista, porém, sempre preservando a essência dançante da obra. Mais do que isso, o material ainda evidencia outro elemento bastante característico das composições que abastecem o registro: as vozes.

Diferente de Time Spent Away From U, em que os vocais funcionavam como um complemento às batidas, em Mirrors, Jakobsson não apenas potencializa o uso da voz, como estreita a relação com diferentes cantoras. Exemplo disso acontece logo na música de abertura do trabalho, She Loves Me. Acompanhado de Stella Explorer, DJ Seinfeld entrega ao público uma de suas criações mais acessíveis. São versos simples e cíclicos, como um mantra que continua a ecoar na cabeça do ouvinte mesmo após o encerramento da faixa. E essa mesmo tratamento acaba se refletindo em diversos outros momentos ao longo do álbum.

É o caso de U Already Know. Enquanto sintetizadores e batidas evocam a obra do Daft Punk, Tiera, nome em ascensão dentro da cena de Los Angeles, empresta os vocais à composição. A artista aparece com ainda mais destaque na música seguinte, The Right Place, registro que vai e encontro ao R&B eletrônico dos anos 1990, como um importante ponto de renovação no repertório de Jakobsson. Mesmo quando utiliza de fragmentos sampleados, como em Tell Me One More Time e na derradeira Song For The Lonely, há sempre um esforço do artista sueco em reforçar o uso da voz, como um importante traço criativo do registro.

Não por acaso, Mirrors talvez seja o caminho mais fácil para mergulhar na obra de DJ Seinfeld. Mesmo livre dos momentos de maior experimentação e quebras conceituais que tornavam tão satisfatória a experiência de ouvir Time Spent Away From U, Jakobsson captura sem dificuldade a atenção do ouvinte e ainda reserva ao público uma série de pequenas surpresas. Do flerte com o garage, na empoeirada Someday, oitava faixa do disco, passando pelas vozes que surgem e desaparecem durante todo material, cada composição serve de estímulo para a música seguinte, como um produto do completo domínio do artista.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.