Quem há tempos acompanha os trabalhos de Felix Manuel como Djrum sabe o quão meticuloso o produtor britânico costuma ser. Entretanto, mesmo dono de repertório marcado em essência pelos detalhes, conceito reforçado no ainda recente EP Meaning’s Edge (2024), o que o artista estabelece em Under Tangled Silence (2025, Houndstooth), terceiro registro de inéditas, transcende esteticamente os limites da própria criação.

Marcado pelo capricho na elaboração dos arranjos que vão de pianos minimalistas ao violoncelo de Zosia Jagodzinska, Under Tangled Silence é um trabalho que encanta pelo completo equilíbrio do produtor. São canções que partem de uma abordagem puramente instrumental, tocando na obra de artistas como Sigur Rós, vide a forte similaridade em músicas como Reprise, porém, sempre orientadas pela força das batidas.

Exemplo disso é o que acontece em L’Ancienne. Inaugurada em meio a pianos que parecem saídos de uma composição de Philip Glass, a faixa aos poucos se transforma e cresce, conduzindo o trabalho para outras direções. É como se o britânico fosse ao encontro de produtores como Objekt e Jlin, porém, substituindo o acabamento sintético de suas obras por um registro estruturado em componentes puramente orgânicos.

Parte desse resultado vem da escolha do artista em perverter a produção tradicional, calcada em batidas eletrônicas, pelo uso de elementos percussivos totalmente livres de efeitos e outras distorções. Não se trata de algo inédito dentro do gênero, como Matmos e diferentes produtores já revelaram anteriormente, porém tudo é tratado com tamanho detalhamento que é praticamente impossível não ceder aos encantos da obra.

Em Three Foxes Chasing Each Other, por exemplo, são quase dois minutos em que o produtor brinca com o uso de elementos percussivos, pianos e vozes até, finalmente, se entregar às pistas. Mesmo quando recorre a uma abordagem um pouco mais direta e sintética, como em Galaxy In Silence, o britânico nunca deixa de impressionar pelos detalhes, direcionamento que se reflete até os momentos finais, na extensa Sycamore.

Sob esse olhar minucioso e emocionalmente engajado, Under Tangled Silence se revela como o trabalho mais completo de Djrum. Utilizando de uma linguagem que abraça tanto o orgânico quanto o eletrônico com a mesma naturalidade, Manuel não apenas amplia os contornos de sua própria identidade artística, como estabelece novas possibilidades dentro da cena eletrônica. Um disco que naturalmente exige escuta atenciosa, mas recompensa com delicadeza, complexidade e reinvenção a cada novo regresso do ouvinte.

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