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Crítica

Dozaj

: "Água Envenenada"

Ano: 2022

Selo: Balaclava Records

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Odradek e Taco de Golf

Ouça: Parede Alta Vista Curta e Uma Vitória Distante

7.6
7.6

Dozaj: “Água Envenenada”

Ano: 2022

Selo: Balaclava Records

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Odradek e Taco de Golf

Ouça: Parede Alta Vista Curta e Uma Vitória Distante

/ Por: Cleber Facchi 13/12/2022

Com o representativo título de Água Envenenada (2022, Balaclava Records) e uma imagem de capa que detalha o cenário caótico de uma construção em um dia nublado, a mensagem repassada na estreia do trio paulistano Dozaj é bastante clara: você está entrando em um território inóspito. Produto da parceria entre os músicos Luccas Villela (bateria), Gabriel Arbex (guitarras e programações) e Fernando Dotta (baixo), o registro de nove faixas ganha forma em um cenário urbano, torto e essencialmente labiríntico. São canções marcadas pelo permanente senso de ruptura, como se pensadas para tumultuar a experiência do ouvinte.

Música de abertura do disco, Parede Alta Vista Curta talvez seja a principal representação de tudo aquilo que o trio busca desenvolver ao longo da obra. Pouco mais de três minutos em que os o grupo vai de um canto a outro de forma totalmente imprevisível, como uma combinação de tudo aquilo que Villela, Arbex e Dotta buscam desenvolver em seus respectivos projetos, caso do E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante, Zander e Single Parentes. Instantes em os membros da banda brincam com as possibilidades, confessam referências e apontam a direção seguida até os minutos finais do trabalho, na também versátil Passo Largo.

Com parte das regras (e não regras) apresentadas pela banda logo nos minutos iniciais do trabalho, cada composição se transforma em um campo aberto ao permanente atravessamento de informações. A própria Anhangabaú, vinda logo em sequência, sintetiza isso de forma bastante eficiente. Enquanto o grupo paulistano convida o ouvinte a se perder em um ambiente que evoca nomes como Mogwai e Slint, entalhes percussivos assumidos pela multi-instrumentista carioca Larissa Conforto (ÀIYÉ) ampliam os limites da obra. É como se o trio seguisse por uma trilha particular quando próxima de outros registros do gênero.

Claro que essa possibilidade de transitar por entre estilos e estreitar relações com outros colaboradores em nenhum momento faz de Água Envenenada uma obra desorientada. Com nove faixas e pouco menos de 40 minutos de duração, os integrantes da banda sabem exatamente que direção seguir dentro de estúdio. São canções que encolhem e crescem a todo instante, porém, preservando a essência criativa do trio, uso de timbres e referências que parecem delimitadas dentro de um mesmo território conceitual. É como um acumulo natural do que existe de melhor e mais característico nos projetos paralelos de cada integrante.

Vem justamente dessa inevitável similaridade e forte aproximação entre as faixas o estímulo para alguns dos momentos de maior instabilidade do disco. Em Arma de Dentes, por exemplo, embora consistente com a proposta criativa do trabalho, não há nada ali que a banda já não tenha experimentado de forma ainda mais interessante na introdutória Parede Alta Vista Curta. Não por acaso, sobrevive nas canções em que o trio perverte qualquer traço de linearidade a passagem para o que há de mais interessante no registro, como na lenta sobreposição de ideias que toma conta de Uma Vitória Distante e Podrido En El Bosque 2.

Marcado pelo cruzamento de informações que vai do rock produzido na década de 1990 ao criativo diálogo com nomes recentes como Black Midi e Odradek, Água Envenenada aponta direções e deixa o caminho aberto para possíveis reencontros entre os três realizadores. Mais do que isso, o registro consolida ideias e estabelece o senso estético adotado pelo trio. São canções que partem de uma estrutura básica, sustentando na combinação entre guitarra, baixo e bateria a passagem para uma obra imprevisível, sempre em movimento e consumida pela atmosfera urbana que vai da capa aos temas instrumentais.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.