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Crítica

Dream Unending

: "Song of Salvation"

Ano: 2022

Selo: 20 Buck Spin

Gênero: Doom Metal

Para quem gosta de: Pallbearer e Tomb Mold

Ouça: Song of Salvation e Ecstatic Reign

7.8
7.8

Dream Unending: “Song of Salvation”

Ano: 2022

Selo: 20 Buck Spin

Gênero: Doom Metal

Para quem gosta de: Pallbearer e Tomb Mold

Ouça: Song of Salvation e Ecstatic Reign

/ Por: Cleber Facchi 05/01/2023

Não fosse a voz gutural logo nos minutos iniciais de Song of Salvation (2022, 20 Buck Spin), o segundo e mais recente álbum do Dream Unending poderia facilmente passar despercebido como um disco de rock atmosférico como outro qualquer. Sequência ao material entregue em Tide Turns Eternal (2021), o registro de cinco faixas ganha forma em uma medida própria de tempo, detalhando camadas instrumentais que mais uma vez destacam o minucioso processo de criação da dupla formada por Justin DeTore (bateria, voz) e Derrick Vella (guitarra, baixo), que já passaram por diferentes projetos da cena norte-americana.

E isso fica bem representado nos mais de 14 minutos da autointitulada composição de abertura. Partindo da lenta apresentação das guitarras de Vella, também integrante do Tomb Mold, a faixa nasce como um convite. São ambientações labirínticas, momentos de maior contemplação, respiros e sobreposições que delicadamente ampliam os limites da obra. Instantes em que o músico convida o ouvinte a se perder em um território quase onírico, porém, perturbado pela voz monstruosa de DeTore, colaborador de bandas como Innumerable Forms e responsável pelo andamento rítmico da canção que se revela aos poucos.

É partindo desse mesmo direcionamento criativo que a dupla logo engata na canção seguinte, Secret Grief. Tão detalhista quanto a composição que a antecede, a música chama a atenção pelo uso calculado dos vocais, dessa vez assumidos por Phil Swanson nos minutos iniciais, além, claro, do inusitado trompete da multi-instrumentista Leila Abdul-Rauf, integrante do grupo californiano Vastum. Nada que pareça diminuir a presença de Vella e DeTore, responsáveis por corromper a segunda metade da faixa, lentamente invadida pela força avassaladora das guitarras, distorções e vozes que se chocam contra o ouvinte como ondas.

Passado esse momento de maior grandeza que naturalmente destaca a força dois dois colaboradores em estúdio, Murmur of Voices, vinda logo em sequência, serve de separação entre a primeira e a segunda metade de Song of Salvation. Faixa mais curta do disco, a canção, como o próprio título aponta, utiliza de vozes murmuradas e pequenas ambientações como um complemento às guitarras sinuosas de Vella. É como uma interpretação ainda mais contida, porém, detalhista, daquilo que o músico havia testado em Forgotten Farewell, composição que antecede a derradeira Tide Turns Eternal, do trabalho anterior.

A diferença entre o disco passado e Song of Salvation está na busca dos dois músicos por um repertório cada vez mais homogêneo e contemplativo, evitando os pequenos contrastes de Tide Turns Eternal. Não por acaso, Unrequited, revelada minutos à frente, utiliza do mesmo direcionamento contido da canção que a antecede. Também instrumental, a composição mais uma vez brilha nas guitarras sempre destacadas de Vella, porém, pouco acrescenta ao restante do trabalho. É como uma extensão menos detalhista e talvez arrastada do som explorado em Secret Grief, proposta que tende a consumir a experiência do ouvinte.

Felizmente, a derradeira Ecstatic Reign traz de volta a mesma potência criativa explícita nos momentos iniciais do registro. Com vozes complementares de McKenna Rae e Richard Poe, além, claro, do gutural truculento de DeTore, a composição de 16 minutos concentra o que há de melhor no som produzido pelo Dream Unending. Enquanto a base da canção oscila entre momentos de calmaria e caos, guitarras carregadas de efeito ganham forma e crescem, esbarrando na completa firmeza da bateria. São camadas instrumentais, batidas e vozes que ampliam tudo aquilo que a dupla tem explorado desde o disco anterior.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.