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Crítica

Duval Timothy

: "Meeting With a Judas Tree"

Ano: 2022

Selo: Carrying Colour

Gênero: Experimental, Jazz, Neo-Soul

Para quem gosta de: Nala Sinephro e Resavoir

Ouça: Mutate e Wood

8.0
8.0

Duval Timothy: “Meeting With a Judas Tree”

Ano: 2022

Selo: Carrying Colour

Gênero: Experimental, Jazz, Neo-Soul

Para quem gosta de: Nala Sinephro e Resavoir

Ouça: Mutate e Wood

/ Por: Cleber Facchi 06/12/2022

É sempre muito impressionante a capacidade que Duval Timothy tem de emocionar e ainda tensionar a experiência do ouvinte em suas obras. Compositor conhecido pelo trabalho como colaborador de nomes como Kendrick Lamar e Solange, o pianista britânico está de volta com mais um novo álbum de inéditas, Meeting With a Judas Tree (2022, Carrying Colour). São seis composições inéditas em que o artista inglês lida com os instantes, estreita relações com diferentes representantes da música de vanguarda, porém, destaca a sensibilidade dos elementos que têm sido incorporados desde o disco anterior, Help (2020).

Como tudo aquilo que marca as criações de Timothy desde a década passada, Meeting With a Judas Tree é um registro que se apresenta ao público de forma bastante discreta e misteriosa, mas não menos interessante. Com Plunge como composição de abertura, o músico parte da lenta sobreposição dos elementos para capturar a atenção do ouvinte. São pianos enigmáticos que se projetam em meio a atravessamentos instrumentais e efeitos cada vez mais ruidosos. É como se o artista revelasse parte das regras que orientam a construção do trabalho, vide o turbilhão que se forma nos minutos finais da canção.

Partindo desse delirante cruzamento de informações, Timothy abre passagem para a canção seguinte, a colaborativa Wood. Completa pela participação da compositora chinesa Yu Su, a faixa traz de volta a mesma melancolia expressa em parte do repertório de Help, porém, delicadamente invade um novo território criativo. São cantos de pássaros, ruídos ocasionais e captações de campo que dialogam com as criações da convidada, vide obras como Yellow River Blue (2021), mas que em nenhum momento rompem com a capacidade do músico britânico em comover o ouvinte, efeito do uso sempre destacado dos pianos.

E isso fica ainda mais evidente na imprevisível Mutate. Escolhida para anunciar a chegada do disco, a faixa concentra o que há de melhor e mais provocativo na obra de Timothy. São pouco menos de nove minutos em que o pianista britânico convida o ouvinte a se perder em um território marcado pela constante fragmentação das ideias e uso de incontáveis camadas instrumentais. Enquanto os pianos concedem ritmo ao material, dedilhados ocasionais e efeitos ampliam os limites da canção. Instantes em que o músico convida o ouvinte a se perder em um cenário de formas flutuantes, quebras e pequenas sobreposições.

Mesmo quando utiliza de uma abordagem tradicional, como em Up, Timothy invariavelmente esbarra em momentos de maior experimentação. Enquanto os pianos revelados nos minutos iniciais fazem lembrar da sutileza que vez ou outra ecoa nas criações de Aphex Twin, segundos à frente, o compositor brinca com a corrupção das ideias. São fragmentos de vozes e ruídos abafados que ainda servem de passagem para a música seguinte, Thunder. Pouco mais de sete minutos em que o pianista e a convidada, a inglesa Fauzia, vão de um canto a outro sem necessariamente perder a consistência do material revelado ao público.

Com Drift como música de encerramento do trabalho, Timothy reserva algumas surpresas para o ouvinte até os minutos finais. Reducionista quando próxima de outras composições reveladas ao longo da obra, a faixa criada em parceria com o produtor serra-leonês Lamin Fofana chama a atenção pelo uso de pequenos acréscimos e labirínticas texturas sintéticas. São pianos econômicos, mas que parecem ampliados quando percebemos as nuances que se escondem por entre as brechas da canção. Frações instrumentais que mais uma vez destacam o minucioso processo de criação do pianista britânico.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.