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Crítica

Eartheater

: "Powders"

Ano: 2023

Selo: Chemical X / Mad Decent

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Shygirl e Sevdaliza

Ouça: Crushing e Pure Smile Snake Venom

7.4
7.4

Eartheater: “Powders”

Ano: 2023

Selo: Chemical X / Mad Decent

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Shygirl e Sevdaliza

Ouça: Crushing e Pure Smile Snake Venom

/ Por: Cleber Facchi 21/12/2023

Inaugurado em meio a ambientações sutis e vozes carregadas de efeitos, Powders (2023, Chemical X / Mad Decent), mais recente trabalho de estúdio de Eartheater, apresenta parte dos componentes que serão explorados ao longo do registro logo na introdutória Sugarcane Switch. Enquanto os versos destacam a sensibilidade poética de Alexandra Drewchin (“O luar pertence a mim / Enquanto você dorme em seus sonhos furiosos“), pequenos acréscimos dão conta de ambientar o ouvinte, como um ensaio para o que se articula de forma ainda mais interessante no trip-hop inebriante de Crushing, vinda logo em sequência.

Uma vez ambientado a esse cenário de formas flutuantes e faixas que destacam o homogêneo processo de criação de Drewchin, são pequenas rupturas criativas e a escolha dos temas dentro de cada música que concedem distinção ao repertório montado pela artista. Em Face On The Moon, por exemplo, versos consumidos pelo desejo ganham forma em uma base que vai do uso de arranjos acústicos ao meticuloso encaixe das batidas eletrônicos que evocam nomes como Portishead. Uma lenta combinação de estilos que ainda abre passagem para a música seguinte, Clean Break, composição que não apenas rompe com o minimalismo explícito nos minutos iniciais do trabalho, como chama a atenção pela riqueza dos arranjos.

Nada que prepare o ouvinte para o que se revela na canção seguinte, Chop Suey. Originalmente lançada pelo System of a Down como parte do álbum Toxicity (2001), a faixa preserva a estrutura da composição assinada por Serj Tankian e Daron Malakian, porém, utiliza de uma abordagem completamente diferente. São pouco mais de quatro minutos em que Drewchin parte de uma base acústica e reducionista para, nos momentos finais, encantar pela sobreposição dos elementos, batidas crescentes, pianos e vozes dobradas que naturalmente funcionam como um instrumento complementar para a musicista norte-americana.

Com a chegada de Heels over Head, Drewchin abre o caminho para a segunda metade do disco. Livre do reducionismo excessivo que marca a primeira porção do registro, a cantora se concentra na formação das batidas, levando o álbum para outra direção. É como se Eartheater fosse de encontro ao mesmo território criativo explorado por artistas como Shygirl e Sevdaliza, contudo, partindo de uma abordagem sempre particular. E isso fica ainda mais evidente com a chegada de Mona Lisa Moan, composição que se revela em pequenas doses, porém, encanta pelo encaixe das batidas, quebras ocasionais e texturas eletrônicas.

Mesmo executada de forma caprichada, toda essa sequência de canções parece insignificante quando perto do que talvez seja a principal faixa do disco, Pure Smile Snake Venom. Com produção assinada pelo cada vez mais requisitado Sega Bodega, artista que já colaborou com nomes como FKA Twigs e Caroline Polachek, a composição não somente destaca a formação das batidas, como conduz o ouvinte em direção às pistas e ainda potencializa as vozes de Drewchin. São fragmentos instrumentais, rítmicos e poéticos que resgatam uma série de elementos incorporados ao longo da obra em um novo e melhorado formato.

Passado esse momento de maior agitação, Salt of the Earth (H2ome) encerra o disco de forma contida, porém, consistente. Mesmo incapaz de causar a mesma sensação de impacto sentida na canção que a antecede, a faixa funciona como um elemento de conexão com os minutos iniciais do registro, criando a sensação de uma obra cíclica. Mais do que isso, a composição prepara o terreno para o que ainda está por vir, afinal, Powders ganha nos próximos meses o álbum-irmão Aftermath (2024), reforçando o sempre cuidadoso processo de criação que há mais de uma década orienta o trabalho produzido por Drewchin.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.