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Crítica

Emicida

: "Emicida Racional VL2 – Mesmas Cores & Mesmos Valores"

Ano: 2025

Selo: Cecropia

Gênero: Rap

Para quem gosta de: Rashid e Criolo

Ouça: Quanto Vale o Show Memo? e A Mema Praça

8.3
8.3

Emicida: “Emicida Racional VL2 – Mesmas Cores & Mesmos Valores”

Ano: 2025

Selo: Cecropia

Gênero: Rap

Para quem gosta de: Rashid e Criolo

Ouça: Quanto Vale o Show Memo? e A Mema Praça

/ Por: Cleber Facchi 15/12/2025

Quando os caminhos se confundem, é necessário voltar ao começo”.

A frase dita por Emicida na canção que inaugura Pra Quem Já Mordeu Um Cachorro por Comida, Até Que Eu Cheguei Longe (2009), estreia do rapper paulistano, é essencial para entendermos aquilo que o artista busca desenvolver em Emicida Racional VL2 – Mesmas Cores & Mesmos Valores (2025, Cecropia). Primeiro álbum de inéditas desde o celebrado AmarElo (2019), o registro de dez faixas é tanto um retorno às origens como um delicado exercício de exposição emocional e busca por reconexão durante o processo de luto.

Imerso em um turbilhão de acontecimentos que culminou na ruptura e na batalha judicial contra o irmão, o músico e empresário Evandro Fióti, Emicida foi pego de surpresa quando, em julho deste ano, teve de lidar com a morte da mãe, Dona Jacira, aos 60 anos. Partindo desse processo de angústia, bem representado nas mensagens de áudio e no choro da introdutória Bom Dia Né Gente? (Ou Saudade Em Modo Maior), o rapper retorna com uma de suas criações mais sensíveis, liricamente expositivas e complexas de toda a carreira.

Utilizando da obra dos Racionais MC’s como base, especialmente o álbum Cores e Valores (2014), Emicida cria um espelhamento conceitual que o ajuda a lidar com as emoções, atravessar esse processo de dor e revisitar o próprio passado. Exemplo disso fica bastante evidente em Quanto vale o show memo?, canção autobiográfica em que passeia por diferentes fases da vida, dialoga com a música de Cassiano e escancara a potência dos versos. “Melhor ser um guerreiro no jardim do que um jardineiro na guerra”, reflete o artista.

Esse mesmo olhar para o passado fica ainda mais evidente em A Mema Praça. Completa pela participação de Rashid e Projota, parceiros desde o começo da carreira e colaboradores no projeto Os Três Temores, a faixa ainda propõe uma reflexão sobre a cobertura da mídia e os diferentes pontos de vista durante o show dos Racionais MC’s na Virada Cultural de 2007, que foi encerrado por conta da violenta repressão policial.

Entretanto, mais do que um exercício saudosista ou de reconexão, Mesmas Cores & Mesmos Valores é uma obra que expande os limites criativos do rapper. Em Finado Neguim Memo?, por exemplo, são pianos tortos de Amaro Freitas que servem de base para uma canção que discute o rap como forma e movimento. Já em Us Memo Preto Zica, são versos sobre autoconsciência, solidariedade entre iguais e os desafios enfrentados em um sistema opressor que fabrica vulnerabilidade. É como um imenso campo aberto às possibilidades.

Claro que, nem sempre, essa abordagem exploratória do rapper leva aos melhores destinos. São músicas desproporcionais, releituras instrumentais aleatórias e pequenas desconexões com a linha narrativa que tornam a audição do álbum confusa. Entretanto, mesmo quando tropeça, Emicida transforma cada desvio em parte do percurso, fazendo dessa inquietude que vai da construção das rimas ao curioso acabamento instrumental uma intensa combinação de sensações que, em estúdio, amplia os limites da própria criação.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.