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Crítica

Empty Country

: "Empty Country II"

Ano: 2023

Selo: Get Better / Tough Love

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Hotline TNT e MJ Lenderman

Ouça: Dustine, Pearl e Cool S

8.0
8.0

Empty Country: “Empty Coutry II”

Ano: 2023

Selo: Get Better / Tough Love

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Hotline TNT e MJ Lenderman

Ouça: Dustine, Pearl e Cool S

/ Por: Cleber Facchi 22/12/2023

Embora engolido pelos eventos causados em decorrência da pandemia de Covid-19, a estreia de Joseph D’Agostino com o Empty Country segue como um dos trabalhos mais devastadoras e potentes da cena norte-americana nos últimos anos. Partindo de experiências familiares, como a morte precoce da própria mãe, o músico que ficou conhecido pela obra no Cymbals Eat Guitars utiliza desse forte caráter pessoal dos versos como elemento de conexão com o cenário ao redor. Canções que detalham a decadência do modo de vida estadunidense e outros inquietações urbanas sempre embebidos em guitarras altamente ruidosas.

Satisfatório perceber nas canções de Empty Country II (2023, Get Better / Tough Love), segundo e mais recente trabalho de estúdio do músico norte-americano, uma natural continuação dos mesmos temas e conceitos anteriormente incorporados pelo guitarrista. São composições que partem de personagens e cenas específicas, porém, adornadas pelo uso de mensagens simbólicas e elementos que se conectam à histórias dos Estados Unidos. “Está em nosso sangue / E em nossos cabelos cor de poeira“, canta em Pearl, criação que destaca esse forte direcionamento historiográfico que há tempos orienta a obra de D’Agostino.

E ela não é a única. Em Bootsie, por exemplo, D’Agostino utiliza de uma poética talvez verborrágica, mas que merece uma atenção especial, efeito direto da ampla variedade de elementos geográficos, políticos e pessoais que se materializam a cada nova curva lírica. São diferentes personagens e acontecimentos que ampliam consideravelmente os limites da obra em relação ao trabalho anterior. “O inferno é o lugar onde tudo acontece / A banda está tocando todas as músicas já escritas ao mesmo tempo / Molde o caos / Faça sua pequena história“, canta em tom incendiário, destacando a potência dos versos que movem o disco.

Embora marcado pela riqueza poética e amplo catálogo temático explorado por D’Agostino ao longo do registro, Empty Coutry II cresce como o trabalho mais pessoal do artista. Terceira faixa do disco, David talvez seja a melhor representação disso. Trata-se de uma homenagem ao músico David Berman (1967 – 2019), que foi seu amigo e mentor desde os primeiros anos do Cymbals Eat Guitars. O mesmo acontece em Syd, composição que não apenas serve de passagem para um universo particular, como traz de volta uma série de recordações empoeiradas vividas pelo compositor durante a adolescência o início da vida adulta.

Essa maior naturalidade de D’Agostino em explorar o próprio passado e outros temas adjacentes resulta na entrega de uma obra marcada pela fluidez dos elementos. São canções essencialmente longas, como um parcial regresso ao mesmo território criativo explorado pelo Cymbals Eat Guitars, vide os momentos de maior libertação vividos em músicas como a crescente Dustine e Bootsie. Nada que prepare o ouvinte para aquilo que o artista apresenta em Cool S. Embora contida nos minutos iniciais, a faixa de 12 minutos cresce aos poucos, culminando em um fechamento catártico que parece pensado para as apresentações ao vivo.

Interessante notar que essa mesma sensação de entrega pode ser percebida durante toda a execução do material. Mesmo que parta de conceitos e estruturas testadas nos antigos trabalhos do Cymbals Eat Guitars ou no autointitulado registro de estreia da banda, fica bastante evidente a segurança e domínio criativo de D’Agostino durante toda a execução do álbum, como se o norte-americano amarrasse possíveis pontas dos lançamentos anteriores. Dessa forma, o guitarrista garante ao público uma obra em que preserva a própria essência, mas que continua a avançar lírica e musicalmente, sempre livre de possíveis traços de conforto.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.