Ano: 2025
Selo: Daughters of Cain
Gênero: Dark Ambient, Drone, Slowcore
Para quem gosta de: Grouper e Midwife
Ouça: Vacillator, Punish e Amber Waves
Ano: 2025
Selo: Daughters of Cain
Gênero: Dark Ambient, Drone, Slowcore
Para quem gosta de: Grouper e Midwife
Ouça: Vacillator, Punish e Amber Waves
Ethel Cain nunca foi encarada como uma artista acessível, porém, a boa repercussão em torno do primeiro trabalho de estúdio, Preacher’s Daughter (2022), e relativo sucesso em torno de canções como American Teenager e Strangers, fez com que a cantora e compositora original da cidade de Tallahassee, na Flórida, fosse apresentada a uma parcela ainda maior do público. Entretanto, Cain não parece seduzida pela fama.
Mais recente trabalho de estúdio da cantora, Perverts (2024, Daughters of Cain) reforça o hermetismo de Cain e exclui qualquer possibilidade de diálogo com a música pop em um claro exercício de afirmação da própria identidade estética. São nove composições propositadamente extensas, arrastadas, sujas e difíceis de serem absorvidas. Pouco menos de 90 minutos em que a musicista preserva a atmosfera sombria dos antigos registros e vai além, evidenciando a busca por um repertório marcado pelo aspecto experimental.
Com a própria música-título como composição de abertura, Cain apresenta parte dos elementos que serão incorporados ao longo do trabalho. Partindo de trechos distorcidos de Nearer, My God, To Thee, um hino cristão do século XIX, a cantora reforça a temática religiosa e atmosfera opressiva de Preacher’s Daughter, porém, parece pouco interessada em facilitar para o ouvinte. São mais de 12 minutos em que ruídos, vozes e ambientações soturnas buscam de alguma forma respirar em um território sufocado pela claustrofobia.
A partir desse ponto, Cain faz questão de tornar tudo ainda mais desagradável para o ouvinte. São canções cada vez mais extensas e lentas, como se a musicista fosse ao encontro de nomes como Grouper, Midwife e Tim Hecker, porém, pervertendo qualquer traço melódico ou mínimo ponto radiante do material. Exemplo disso é o que acontece em Pulldrone, com suas cordas estridentes que se espalham por mais de 15 minutos.
Embora difícil de ser absorvido, Perverts nunca deixa de gratificar os ouvintes mais persistente. Entre um momento de maior experimentação e outro, Cain reserva ao público delicadas camadas instrumentais e pequenos respiros criativos que evidenciam o lado mais acessível da artista. Canções como a já conhecida Punish, Vacillator e Amber Waves que, mesmo seguindo em um ritmo próprio, nunca deixam de encantar.
Vem justamente dessa capacidade da artista em alternar entre momentos de maior conforto e composições quase intransponíveis a real beleza do trabalho. É como um jogo pervertido entre a musicista e o próprio público, continuamente tensionado pela excruciante jornada instrumental e temática suja elaborada pela cantora. Um denso repertório que talvez desagrade aos ouvintes mais apressados ou interessados apenas pelo repertório pop de Cain, porém, consistente com tudo aquilo que define a obra da norte-americana.
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.