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Ano: 2023

Selo: Buzzin' Fly / Virgin

Gênero: Eletrônica, Downtempo

Para quem gosta de: Portishead e Beth Orton

Ouça: Nothing Left To Lose e Caution To The Wind

8.0
8.0

Everything But The Girl: “Fuse”

Ano: 2023

Selo: Buzzin' Fly / Virgin

Gênero: Eletrônica, Downtempo

Para quem gosta de: Portishead e Beth Orton

Ouça: Nothing Left To Lose e Caution To The Wind

/ Por: Cleber Facchi 24/04/2023

O tempo só favoreceu a obra do Everything But The Girl. Mais de duas décadas após o lançamento do último trabalho de estúdio, Temperamental (1999), o casal formado pela cantora e compositora Tracey Thorn e o produtor Ben Watt estão de volta com um novo registro de inéditas, Fuse (2023, Buzzin’ Fly / Virgin). São dez composições em que a dupla britânica segue de onde parou no início dos anos 2000, porém, partindo de um delicado senso de atualização que se reflete na produção minuciosa que orienta a formatação das batidas e bases, mas que ganha ainda mais destaque no refinamento dado aos versos.

Beije-me enquanto o mundo decai / O que temos a perder?“, provoca Thorn na introdutória Nothing Left To Lose, música que destaca a voz impecável da cantora inglesa e uma passagem para o ambiente marcado pelas sensações que orienta a experiência do ouvinte. É como um regresso ao mesmo território criativo explorado pelos dois artistas em obras como Amplified Heart (1994) e Walking Wounded (1996), quando narrativas urbanas e personagens consumidos pelos próprios sentimentos serviram de base para algumas das principais criações do casal, conceito que volta a se repetir no repertório do presente álbum.

A diferença em relação aos antigos trabalhos está na forma como Tracey, responsável pela construção dos versos, encara tudo com maior sobriedade. São canções que tratam sobre viver aventuras românticas, mergulhar de cabeça nos próprios sentimentos, arriscar e cometer erros, porém, dentro de um espaço de acolhimento, rompendo com a lógica do amadurecimento repressivo. “Tome uma bebida, fale muito alto / Seja um tolo no meio da multidão / Mas perdoe a si mesmo“, aconselha em When You Mess Up, música que aponta com sutileza para o passado e funciona como uma mensagem positiva da artista para ela mesma.

Nesse sentido, Thorn e Watt, notórios artesãos na manufatura de canções que capturam o sentimento de juventude, não apenas preservam a essência dos antigos trabalhos do Everything But The Girl, como parecem ter aperfeiçoado sua arte. Composições que esbarram em momentos de maior melancolia, mas que a todo momento soam como um chamado para o ouvinte. “Eu esperei toda a minha vida / Para tal noite … O céu é uma catedral / E eu estou em casa“, canta em Caution To The Wind, música que avança aos poucos, sem pressa, destacando o domínio criativo e potência da dupla durante toda a execução da obra.

Parte desse resultado vem do esforço de Watt em trabalhar batidas, arranjos e bases de forma sempre homogênea, gerando uma sensação de acolhimento e aproximação entre faixas tematicamente diversas. Em geral, são canções que começam pequenas, ganham forma aos poucos e garantem ao público um fechamento grandioso, direcionamento reforçado em Forever e No One Knows We’re Dancing, música que soa como uma combinação entre Sade e Massive Attack. Mesmo quando rompe com essa lógica, como no pop atmosférico de Interior Space, a dupla nunca rompe com o que parece ser um limite bem definido.

Embora evidente durante toda a execução do trabalho, essa forte aproximação entre as faixas em nenhum momento faz de Fuse um registro marcada pelo aspecto formulaico. Por outro lado, quando observamos o material em comparação aos antecessores Walking Wounded e Temperamental, o álbum que põe fim ao longo hiato da dupla inglesa é uma obra que se distancia de possíveis riscos. Ainda assim, dentro desse espaço que tende ao conforto, Thorn e Watt garantem ao público algumas de suas melhores criações, como uma extensão natural de tudo aquilo que o casal tem explorado em mais de quatro décadas de carreira.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.