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Ano: 2024

Selo: Real World

Gênero: Jazz

Para quem gosta de: Baden Powell e Amaro Freitas

Ouça: Foi Boto, Poeira e Capricho

7.8
7.8

Fabiano do Nascimento & Sam Gendel: “The Room”

Ano: 2024

Selo: Real World

Gênero: Jazz

Para quem gosta de: Baden Powell e Amaro Freitas

Ouça: Foi Boto, Poeira e Capricho

/ Por: Cleber Facchi 07/02/2024

No início da década passada, quando integrava um grupo de jazz latino chamado Triorganico, Fabiano do Nascimento foi convidado a se apresentar em um restaurante com temática jazzística localizado na região de Los Angeles, na Califórnia, para onde havia se mudado anos antes. Dessa performance, veio o primeiro contato com o primo do dono do estabelecimento, Sam Gendel, um saxofonista e produtor em ascensão que viria a colaborar com nomes importantes da cena norte-americana, entre eles, Perfume Genius, Blake Mills e Vampire Weekend, com quem divide parte das composições incorporadas em Father of the Bride (2019).

Mais de uma década após esse contato inicial, o compositor brasileiro e o músico estadunidense voltam a se encontrar no colaborativo The Room (2024, Real World). Com dez composições, o registro marcado pelo reducionismo dos arranjos estabelece na introdutória Foi Boto parte dos elementos que serão explorados ao longo do material. Enquanto o violão de sete cordas do instrumentista carioca passeia com liberdade pelo interior da canção, confessando referências que vão de Baden Powell a João Gilberto, o saxofone de Gendel se projeta de maneira complementar, ocupando as pequenas brechas deixadas pelo violonista.

Com base nesse estrutura, que vez ou outra esbarra na construção de canções bastante similares, como se saídas de outras obras do músico carioca, como Tempo dos Mestres (2017), em que também contou com o suporte de Gendel, os dois artistas parecem jogar com o uso de pequenas variações. Em Astral Flowers, por exemplo, o sempre fluido violão do instrumentista brasileiro assume novas formatações, surgindo como um elemento percussivo na segunda metade da composição. Já em Kewere, o discreto saxofone parece crescer para além dos limites da canção, levando o som produzido pela dupla para diferentes territórios criativos.

É como se do Nascimento e Gendel partissem de uma estrutura limitante, como o quarto fechado que dá nome ao disco, mas a todo momento estabelecessem pequenas rupturas instrumentais que conduzem o repertório do trabalho para novas direções. Sétima composição do álbum, Até de Manhã funciona como uma boa representação desse resultado. Dotada de uma melancolia poucas vezes antes vista dentro da obra do violonista brasileiro, a faixa desacelera e rompe com o andamento rítmico dado ao registro para destacar o aspecto contemplativo do material, direcionamento que também se reflete na posterior Poeira.

São composições que continuam a orbitar o mesmo território criativo que tem sido explorado por cada colaborador em seus respectivos projetos em carreira solo, porém, partindo de um delicado senso de atualização. Em Capricho, logo nos minutos iniciais, do Nascimento vai de encontro ao choro na mesma medida em que sustenta no andamento rítmico da canção um diálogo com a música nordestina. Já em Tupi, próxima ao encerramento do trabalho, ambientações sutis ganham forma aos poucos, sem pressa, culminando em um fechamento que encontra no uso discreto das vozes um componente de transformação.

Por meio dessas variações instrumentais e quebras estrategicamente inseridas, do Nascimento e Gendel garantem ao público uma obra tão próxima dos antigos trabalhos como marcado pelo evidente senso de renovação. Mesmo que tudo seja apresentado de forma exageradamente contida, como uma extensão dos últimos registros do músico brasileiro, caso de Mundo Solo (2023) e Das Nuvens (2013), The Room é um álbum capaz de seduzir sem grandes esforços. São canções que mais ocultam do que revelam informações, proposta que torna a experiência de ouvir o material sempre satisfatória a cada novo regresso do ouvinte.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.