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Crítica

Roses Gabor

: "Fantasy & Facts"

Ano: 2019

Selo: Allpoints

Gênero: R&B, Soul, Trip-Hop

Para quem gosta de: Dawn Richard e Katy B

Ouça: ETIT, Turkish Delight e Illusions

7.6
7.6

“Fantasy & Facts”, Roses Gabor

Ano: 2019

Selo: Allpoints

Gênero: R&B, Soul, Trip-Hop

Para quem gosta de: Dawn Richard e Katy B

Ouça: ETIT, Turkish Delight e Illusions

/ Por: Cleber Facchi 08/03/2019

Gorillaz, SBTRKT, Machinedrum e Toddla T, esses são apenas alguns dos artistas que encontraram na voz de Roses Gabor um importante componente criativo. Colaboradora em alguns dos projetos mais relevantes da cena inglesa, a cantora e compositora original de Londres passou os últimos dez anos se revezando em obras que vão da produção eletrônica ao R&B. Frações poéticas, sussurros e sentimentos confessos que acabaram servindo de passagem para o material entregue no primeiro álbum de estúdio da artista, Fantasy & Facts (2019, Allpoints).

Concebido em um intervalo de poucos meses, o trabalho inaugurado pela atmosférica Rush sutilmente dialoga com toda a sequência de obras apresentadas por Gabor nos últimos anos. São variações instrumentais que apontam para o pós-dubstep, diálogos intimistas com a soul music e até pequenos resgates conceituais que esbarram no trip-hop produzido no final dos anos 1990. Um colorido cardápio de ideias que reflete com naturalidade a completa versatilidade da artista.

Exemplo disso está em Turkish Delight. São pouco mais de quatro minutos em que Gabor atravessa as pistas em uma criativa colisão de sintetizadores, melodias etéreas e batidas eletrônicas que se aproximam da nomes como Katy B, Disclosure e, principalmente, SBTRKT, com quem colaborou na excelente Pharaohs. A mesma atmosfera dançante volta a se repetir em Akward Desire, faixa que reforça a essência comercial do álbum, como uma interpretação acessível de Burial, Four Tet e demais conterrâneos.

Embora convidativo, em permanente diálogo com a música pop, a grande beleza de Fantasy & Facts se esconde nos momentos de maior recolhimento da obra. É o caso de ETIT. De essência atmosférica, a canção ganha forma aos poucos, confortando a voz de Gabor em uma cama de temas eletrônicos que fazem lembrar a boa fase do Portishead. Em I Could Be Yours, o mesmo diálogo com o passado. A diferença está na forma como a cantora se entrega ao R&B, transformando os próprios sentimentos e pequenas desilusões em música.

Uma das principais faixas do disco, Feels Roll N Burn encanta justamente por colidir esses dois universos conceituais. “Eu sei como é / Muitos sentimentos voam / Muitas pessoas sentem, fingem que não sabem / A vida leva voltas inesperadas“, reflete enquanto batidas e sintetizadores encolhem e crescem a todo instante, lembrando uma versão futurística do trabalho de Adele. A própria This Room, faixa de encerramento do disco, é outra que encanta pela forma como Gabor dissolve os sentimentos em uma estrutura tão irregular quanto próxima do ouvinte médio.

Completo pela presença de Sampha, em Illusions, Fantasy & Facts preserva a identidade criativa que vem sendo moldada pela cantora desde o início da carreira, porém, provando de novas possibilidades e ritmos. É como se Gabor olhasse para tudo o que foi produzido na cena britânica durante mais de duas décadas e adaptasse aos próprios sentimentos e experiências particulares. O resultado está na entrega de uma obra conceitualmente ampla, porém, concisa, indicativo do lento processo de amadurecimento criativo da artista.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.