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Crítica

Faye Webster

: "Underdressed at the Symphony"

Ano: 2024

Selo: Secretly Canadian

Gênero: Indie, Alt. Country

Para quem gosta de: Jenny Lewis e Clairo

Ouça: But Not Kiss, Lego Ring e Lifetime

7.8
7.8

Faye Webster: “Underdressed at the Symphony”

Ano: 2024

Selo: Secretly Canadian

Gênero: Indie, Alt. Country

Para quem gosta de: Jenny Lewis e Clairo

Ouça: But Not Kiss, Lego Ring e Lifetime

/ Por: Cleber Facchi 19/03/2024

Em um progresso lento, porém, contínuo, Faye Webster parece ter conquistado um espaço que pertence somente à ela. Quinto e mais recente álbum de estúdio da carreira, Underdressed at the Symphony (2024, Secretly Canadian) talvez seja o melhor exemplo disso. São dez composições em que a artista original de Atlanta, na Geórgia, continua a se aventurar pelo cancioneiro norte-americano, porém, utilizando de uma abordagem particular que mescla com naturalidade e leveza o uso de elementos de música pop e R&B.

Mesmo longe de parecer uma novidade para quem há tempos acompanha o trabalho de Webster, vide o repertório apresentado pela cantora nos antecessores Atlanta Millionaires Club (2019)e I Know I’m Funny haha (2021), Underdressed at the Symphony é o registro onde todos esses componentes parecem melhor organizados e compreendidos pela própria criadora. São canções que transitam com naturalidade pelos mais diversos estilos, porém, preservando na seleção dos timbres, bases e vozes uma forte aproximação.

Parte desse resultado vem do esforço direto da musicista em mais uma vez limitar o time de colaboradores em estúdio e estreitar laços com o produtor Drew Vandenberg, com quem tem trabalhado mesmo antes do amadurecimento artístico em Atlanta Millionaires Club. Dessa forma, parece natural que Webster possa vagar por entre canções como Thinking About You, com seus arranjos que evocam o Wilco da fase Sky Blu Sky (2007), e Lego Ring, em parceria com o rapper Lil Yachty, sem que isso pareça minimamente estranho.

Entretanto, para além dos temas instrumentais e decisões pouco usuais em uma obra do gênero, o grande charme do repertório de Underdressed at the Symphony permanece na construção dos versos. A exemplo de tudo aquilo que Webster havia testado nos discos anteriores, o novo álbum chama a atenção pela forma como a artista perverte a lógica do amor romântico e se aprofunda nos diferentes atritos vividos dentro de qualquer relação. Torções da realidade que invariavelmente concedem maior profundidade ao trabalho.

Quero dormir em seus braços, mas não beijar / Anseio pelo seu toque, mas não sinto sua falta“, canta em But Not Kiss, música que destaca a miríade de sentimentos conflitantes que passam pela cabeça da artista. É como se Webster partisse de uma lógica tradicional das relações, porém, utilizasse de pequenos pontos de ruptura que levam o disco para outras direções. “Não consigo me imaginar / Diante de você / Durante toda vida“, canta na sóbria Lifetime, composição que escancara a poética inquietante que move o álbum.

Embora consumido pelo forte aspecto sentimental, Underdressed at the Symphony em nenhum momento pesa sobre o ouvinte, preservando o humor habitual que há tempos embala as criações da artistas. São crônicas musicadas que funcionam com passeio pela mente, traumas e tormentos confidenciados pela artista, porém, pontuados por um fino toque de leveza que não apenas rompe com a lógica prevista em outros exemplares do gênero, como consolida a identidade criativa delicadamente proposta por Webster.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.