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Crítica

FBC / VHOOR

: "Baile"

Ano: 2021

Selo: Independente

Gênero: Hip-Hop, Rap, Funk

Para quem gosta de: Djonga, Putdodiparis e Febem

Ouça: Vem Pro Baile, Se Tá Solteira e Delírio

8.5
8.5

FBC & VHOOR: “Baile”

Ano: 2021

Selo: Independente

Gênero: Hip-Hop, Rap, Funk

Para quem gosta de: Djonga, Putdodiparis e Febem

Ouça: Vem Pro Baile, Se Tá Solteira e Delírio

/ Por: Cleber Facchi 22/11/2021

Do encaixe das vozes que se dividem entre o canto e a rima ao jogo nostálgico das batidas, cada mínimo fragmento de Baile (2021, Independente) parece conduzir o ouvinte em direção ao passado. Entre ecos de Furacão 2000 e outras coletâneas de funk melody que moldaram a estética da produção carioca nos anos 1990, os mineiros FBC e VHOOR reavivam memórias sem necessariamente fazer disso o estímulo para uma obra unicamente saudosista. São canções que evocam lembranças empoeiradas e confessaram referências, porém, sustentam na construção versos um diálogo totalmente sóbrio e necessário com o presente.

Catapultado por conta do fenômeno no TikTok que envolve a viralização da música Se Tá Solteira, quinta faixa do disco, Baile convence com naturalidade em uma audição descompromissada. Do momento em que tem início, na convidativa Vem Pro Baile, VHOOR utiliza de uma colorida sobreposição de ritmos que vai da chegada do Miami Bass ao Brasil à explosão televisiva que tomou conta das tardes de sábado no início dos anos 2000. Um exercício puramente melódico e acessível que continua a reverberar na cabeça do ouvinte mesmo após o encerramento do trabalho, sempre completo pelas rimas e vozes espalhadas por FBC.

Entretanto, é quando observado de maneira atenta que o registro de dez faixas realmente chama a atenção do ouvinte. Para além do forte aspecto festivo e do olhar nostálgico para os bailes de música negra, o trabalho sustenta na narrativa oculta ao fundo das canções um sombrio componente de aproximação e fortalecimento entre as músicas. Trata-se de uma turbulenta história de amor, encarceramento e repressão policial que une três personagens centrais: Pagode, o pai de família preso injustamente; Jessica, a musa que teve a filha assasinada pela polícia; Paulinho, o antagonista que vive de pequenos golpes e receptações.

Tendo na ambientação do baile o cenário conceitual que aproxima esses três personagens, o registro se divide com naturalidade entre momentos de maior celebração e faixas marcadas pelo forte discurso contestador. “Quando começou a operação da PM / Não deu pra onde correr / Mais de 20 canas disfarçados / A luz do sol, matando pra todo mundo ver“, cresce a letra de Polícia Covarde, música que sintetiza parte do lirismo angustiado que consome o disco. A própria interferência de Djair Voz Cristalina, narrador que surge em momentos estratégicos ao longo da obra, funciona como um componente de repressão. “E se você não abraçar o papo, já sabe né?“, detalha de forma maléfica em Melô do Vacilão.

Nada que prejudique a leveza do registro. E isso fica bastante evidente em Delírios, sétima faixa do disco. Enquanto os versos evocam o romantismo de Claudinho e Bochecha – “Posso fazer o que você quiser / Posso roubar do céu o sol com as mãos / Eu faço tudo pelo nosso amor / Que amor, eu devo estar ficando louco” –, batidas rapidamente convidam o ouvinte a dançar. Mesmo quando tende à melancolia, como em Não Dá Pra Explicar, bem-sucedido encontro com a conterrânea Mariana Cavanellas, Baile em nenhum momento deixa de estreitar a relação com o ouvinte, seduzido até a chaga da derradeira De Kenner.

Tamanha fluidez dos elementos garante ao público uma obra essencialmente versátil, ainda que equilibrada. É como se FBC e VHOOR, mesmo consumidos pelo forte aspecto revisionista, em nenhum momento sufocassem pelo excessivo escapismo, alternando entre criações densas e músicas puramente festivas. Parte desse resultado vem do permanente diálogo com diferentes colaboradores. São nomes como Mac Júlia, Uana e DJ Spider que sutilmente ampliam os limites da obra e garantem ao disco um aspecto colaborativo, típico da essência plural do ambiente que serve de inspiração para a construção das faixas.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.