Image
Crítica

Febem

: "Abaixo do Radar"

Ano: 2024

Selo: Brime.BR / Empire

Gênero: Rap

Para quem gosta de: Fleezus e SD9

Ouça: Obrigado Mainstream e Abaixo do Radar

8.5
8.5

Febem: “Abaixo do Radar”

Ano: 2024

Selo: Brime.BR / Empire

Gênero: Rap

Para quem gosta de: Fleezus e SD9

Ouça: Obrigado Mainstream e Abaixo do Radar

/ Por: Cleber Facchi 24/07/2024

A verdade sempre fez parte da obra de Febem, porém, nunca de maneira tão explícita quanto em Abaixo do Radar (2024, Brime.BR / Empire). Mais recente trabalho de estúdio do rapper, o sucessor de Jovem OG (2021) segue a trilha do registro que o antecede, detalhando composições que tratam sobre os percalços e conquistas pessoais do paulistano que já contabiliza mais de uma década de atuação, contudo, estabelece na formação dos versos uma vulnerabilidade pouquíssimas vezes antes percebida no repertório do artista.

Logo eu que julgam ser alguém forte demais pra chorar / Certo demais pra falhar, tipo um cofre / Queria ter a sorte hoje de não pensar demais”, rima em Super Hip-Hop, música que não apenas sintetiza parte dos temas incorporados ao longo do trabalho, como serve de passagem pela mente e inquietações do rapper. São canções que tratam sobre saúde mental e tormentos pessoais, conceito que se reflete até os últimos minutos, em Mais Um Dia, faixa que se encerra com uma mensagem de acolhimento e chamado à terapia.

Claro que essa maior melancolia e evidente carga emocional explícita na construção dos versos em nada prejudica a entrega de faixas ainda íntimas dos antigos trabalhos do artista. Perfeita representação desse resultado pode ser percebida em Nave. Completa pela participação de Luccas Carlos, a canção se projeta como uma celebração às realizações de Febem, direcionamento que se reflete não apenas na montagem dos versos, mas nas batidas ascendentes que, mais uma vez, contam com produção assinada por CESRV.

Parceiro de longa data do rapper, o produtor continua a se aventurar na inserção de batidas eletrônicas e sintetizadores melódicos que a todo momento apontam para a cena internacional, porém, pontuados por um fino toque de brasilidade que vem sendo aprimorado desde o amadurecimento artístico de Febem em Running (2019). A própria referência a Jorge da Capadócia, logo na introdutória faixa-título, evocando tanto Jorge Ben como os Racionais MC’s na voz de Smile, funciona como uma boa representação desse resultado.

Entretanto, para além todas das questões técnicas e evidente refinamento estético do material, prevalece na construção das rimas a verdadeira força do trabalho de Febem. Com um flow que soa como faca quente na manteiga, o rapper despeja verdadeiras preciosidades como Sem Ferir Ninguém, Obrigado Mainstream e demais composições que, mesmo resolvidas em um intervalo de pouco mais de dois minutos, destacam um aprofundamento lírico meticuloso, como se diferentes narrativas fossem condensadas dentro de cada faixa.

Pena que esse mesmo capricho não se faz evidente durante toda a execução do trabalho. Salve exceções, como a derradeira Mais Um Dia, notável é o desequilíbrio quando avançamos para a segunda metade do álbum. São canções como Nóis É Isso Aí e Relógio que mais parecem versões pobres daquilo que Febem tematicamente apresenta nos minutos iniciais de Abaixo do Radar. São instantes de maior desequilíbrio, porém, solucionados pela curta duração das faixas que, em momento algum, diminuem o impacto da obra.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.