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Crítica

Feist

: "Multitudes"

Ano: 2023

Selo: Interscope / Polydor

Gênero: Indie

Para quem gosta de: Cat Power e Neko Case

Ouça: Borrow Trouble e Love Who We Are Meant To

8.0
8.0

Feist: “Multitudes”

Ano: 2023

Selo: Interscope / Polydor

Gênero: Indie

Para quem gosta de: Cat Power e Neko Case

Ouça: Borrow Trouble e Love Who We Are Meant To

/ Por: Cleber Facchi 21/04/2023

Multitudes (2023, Interscope / Polydor) é exatamente o tipo de obra que você poderia esperar de Feist. Do momento em que tem início, na já conhecida In Lightning, todos os elementos que fizeram da cantora e compositora canadense um dos nomes mais importantes das últimas duas décadas são prontamente apresentados ao ouvinte. Do uso instrumental das vozes, sempre impecáveis, passando pela percussão que surge e desaparece durante toda a execução do material, ocupando os pequenos bolsões de silêncio que crescem em momentos estratégicos, cada fragmento parece cuidadosamente planejado pela musicista.

Entretanto, longe de esbarrar em um resultado previsível, tamanho esmero e uso sempre calculado das informações garante ao público um material que surpreende durante toda sua execução. Primeiro trabalho de estúdio da artista norte-americana desde Pleasure (2017), Multitudes preserva muito da sonoridade que tem sido incorporada pela cantora desde o introdutório Monarch (Lay Your Jewelled Head Down)(1999), porém, sustenta na construção dos versos seu principal componente de transformação. É como uma manifestação das diferentes personalidades, traumas e histórias que habitam o interior de cada indivíduo.

Existem mil maneiras diferentes de se esconder“, reflete em Hiding Out In The Open, composição que se espalha em meio a arranjos econômicos, potencializando a força dos versos que sintetizam parte das inquietações incorporados pela cantora ao longo da obra. São canções marcadas pelo lirismo agridoce. Instantes em que Feist parte do contato com outros indivíduos para refletir sobre as próprias angústias e pequenas realizações. Parte desse resultado vem do turbulento processo vivido pela compositora no período que antecede as gravações do trabalho, como a adoção da primeira filha e a morte do próprio pai. E essa contrastante combinação de emoções acaba se refletindo no próprio andamento dado ao disco.

Assim como em The Reminder (2007), Feist transita em meio a momentos de maior calmaria e faixas essencialmente grandiosas, orientando a experiência do ouvinte de forma sempre versátil. O resultado desse processo está na entrega de uma obra que traz de volta uma série de elementos que tem sido explorados pela artista desde os primeiras empreitadas em estúdio, porém, partindo de um fino toque de atualização. Canções que avançam aos poucos, como uma soma das memórias e sentimentos da cantora.

Oitava composição do disco, Become The Earth funciona como uma boa representação desse resultado. Enquanto os versos refletem sobre a passagem do tempo e a inevitabilidade da morte de forma bastante sensível, camadas de vozes se entrelaçam, revelam nuances e crescem de forma para culminar em um fechamento grandioso. É como um ensaio para o que se revela de forma ainda mais potente na canção seguinte, Borrow Trouble. Uma intensa combinação de vozes, guitarras e metais, proposta que faz lembrar das criações da artista como integrante do Broken Social Scene, com quem colabora esporadicamente.

Mesmo quando se distancia de estruturas grandiosas, limitando tudo ao uso dos vocais e parcos violões, prevalece a riqueza dos detalhes e capacidade da artista em comover. Da delicada reflexão sobre amor e aceitação que invade os versos de Love Who We Are Meant To, passando pela reconfortante canção de encerramento, Song For Sad Friends, faixa que parece saída de Let It Die (2004), sobram momentos em que Feist utiliza da força dos sentimentos para estreitar relações. Composições que partem de uma abordagem bastante particular, mas que se completam pelas experiências, tormentos e emoções do próprio ouvinte.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.