Ano: 2024
Selo: Touch
Gênero: Experimental
Para quem gosta de: Tim Hecker e William Basinski
Ouça: Heliconia, Personare e Goniorizon
Ano: 2024
Selo: Touch
Gênero: Experimental
Para quem gosta de: Tim Hecker e William Basinski
Ouça: Heliconia, Personare e Goniorizon
Entre o final de 2023 e início do ano seguinte, Christian Fennesz montou um novo estúdio e, mesmo sem um conceito inicial, se concentrou em sessões de trabalho que se estendiam do início da manhã ao meio-dia, do fim do almoço à meia-noite. O resultado desse processo, que se dividia entre a coleta de ideias e a correção desses improvisos, está na entrega de Mosaic (2024, Touch), um registro essencialmente enxuto para os padrões do compositor austríaco, porém, dotado de uma profundidade e esmero extraordinário.
Marcado pela mesma atmosfera marítima de alguns de seus principais registros, caso de Venice (2004), Black Sea (2008) e o antecessor Agora (2019), Mosaic estabelece na introdutória Heliconia, com pouco mais de nove minutos de duração, parte dos elementos que serão incorporados ao longo do material. São delicadas camadas de sintetizadores, texturas e efeitos que preparam terreno para o uso das guitarras, principal ferramenta de criação do compositor que começou seus experimentos no início dos anos 1990.
Com o ouvinte familiarizado ao ambiente de formas flutuantes e incontáveis camadas instrumentais, cada nova composição se transforma em um objeto de estudo para Fennesz. Em Loved and the Framed Insects, por exemplo, são distorções, ruídos e texturas psicodélicas que trazem de volta a mesma atmosfera veranil de obras como Endless Summer (2001) e Bécs (2014), conceito abandonado na posterior Personare, faixa que bebe da mesma interpretação nostálgica de Oneohtrix Point Never sobre a música da década de 1980.
São canções que transitam por diferentes percursos criativos, mas em nenhum momento rompem com o forte aspecto contemplativo da obra. A própria A Man Outside, com suas inserções espaçadas e guitarras que surgem de maneira quase percussiva, ecoando como batidas bruscas ao longo da canção, funciona como uma boa representação desse resultado. Instantes em que Fennesz vai de um canto a outro de forma a romper com qualquer traço de comodismo, porém, regressando a um ambiente de emanações etéreas.
Não por acaso, quando parte de uma abordagem linear, o artista garante ao público algumas das canções menos interessantes do trabalho. É o caso de Patterning. Mesmo oferecendo maior destaque às guitarras, a composição acaba se perdendo em um campo de abstrações enevoadas. É como se o compositor austríaco seguisse de onde parou no registro anterior, com suas criações que se estendiam por mais de dez minutos, contudo, livre da mesma complexidade e diferentes atravessamentos de informações próprios de Fennesz.
Nada que a posterior Goniorizon, escolhida para o encerramento do trabalho, não dê conta de solucionar. Mesmo contida em seus minutos iniciais, resgatando parte dos elementos testados em Personare, a canção aos poucos se transforma, tornando a pacífica atmosfera marítima do disco, bem representada pela serena imagem de capa, quase turbulenta. São ambientações delirantes que, mais uma vez, tiram o ouvinte de um estado de conforto e evidenciam a capacidade de Fennesz em bagunçar os rumos da própria criação.
Ouça também:
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.