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Crítica

Fernando Catatau

: "Fernando Catatau"

Ano: 2022

Selo: Independente

Gênero: Rock, Pop Psicodélico

Para quem gosta de: Cidadão Instigado e Giovani Cidreira

Ouça: Nada Acontece, Nostalgia e Sinceramente

9.0
9.0

Fernando Catatau: “Fernando Catatau”

Ano: 2022

Selo: Independente

Gênero: Rock, Pop Psicodélico

Para quem gosta de: Cidadão Instigado e Giovani Cidreira

Ouça: Nada Acontece, Nostalgia e Sinceramente

/ Por: Cleber Facchi 08/02/2022

A imagem refletida em meio a escombros que estampa a fotografia de capa do primeiro álbum em carreira solo de Fernando Catatau diz muito sobre a proposta do cantor e compositor cearense. Imerso em meio a fragmentos emocionais, entulhos e memórias empoeiradas, o músico, também vocalista e líder da banda Cidadão Instigado, busca se restabelecer sentimentalmente. São canções que parecem dançar pelo tempo, esbarrando em recordações melancólicas e personagens anuviados. Um misto de passado e presente que se confunde a todo instante, como um passeio pela mente atormentada do próprio do artista de Fortaleza.

A nostalgia criou cascas em meu corpo / E com o tempo elas caem no chão / Me machucando pouco a pouco“, detalha Catatau em Nostalgia. Localizada próxima ao encerramento do disco, a composição de acabamento vagaroso funciona como uma representação de tudo aquilo que o músico que já colaborou com nomes como Arnaldo Antunes, Céu e Los Hermanos busca desenvolver ao longo da obra. É como um permanente olhar para o passado, ainda que a necessidade de seguir em frente aponte a direção seguida durante toda a execução da obra. “Eu acho que virei de costas para mim / E me entreguei“, completa.

Claro que isso está longe de parecer uma novidade para quem há tempos acompanha a obra de Catatau. Desde os primeiros trabalhos com a Cidadão Instigado, caso de O Ciclo da Decadência (2002) e Cidadão Instigado e o Método Túfo de Experiências (2005), o cantor e compositor cearense tem feito desse olhar saudosista para o passado um estímulo para a própria obra. A diferença está na forma como o músico se revela ao público de maneira ainda mais sensível e intimista, transbordando vulnerabilidade a cada mínimo fragmento poético. “Tem certas coisas tão difíceis de dizer“, confessa na introdutória Raios na Imensidão, faixa que aponta a direção seguida pelo artista até a derradeira Quando o Dia Amanhecer.

Dentro desse espaço marcado pela exposição dos versos, Catatau não apenas confessa sentimentos, marca da agridoce Completamente Apaixonado, parceria com YMA, como utiliza do trabalho para mergulhar em horrores existenciais, medos e conflitos políticos. Exemplo disso acontece em A Fraternidade, música em que trata da canibalização da elite, e Os Monstros, composição em que parece perseguido pelas próprias memórias. “Os monstros já me viram / E eu me tremendo todo fiquei rindo / Me jogam para trás e eu lembrando dos meus pais / Na hora de partir e eu sorrindo“, detalha em meio a arranjos aterrorizantes.

De fato, sobrevive na fina tapeçaria instrumental que se espalha durante toda a execução da obra um importante componente de fortalecimento para os versos. São ambientações enevoadas de sintetizadores, guitarras e sopros ocasionais que resgatam uma série de elementos originalmente testados pela Cidadão Instigado em Uhuuu! (2009), porém, de forma ainda mais homogênea e densa. Não por acaso, a estreia de Catatau é uma obra que exige tempo e uma audição atenta por parte do ouvinte. São canções que se revelam ao público em pequenas doses, como a passagem para um domínio próprio do músico cearense.

Uma vez ambientado a esse cenário onde memórias, medos e sentimentos se confundem a todo momento, colaboradores ocasionais surgem e desaparecem durante toda a execução do material. São nomes como Juliana R. e Giovani Cidreira, com quem divide a retrofuturista e já conhecida Nada Acontece, Uirá dos Reis, em Tempos Sombrios, e o co-produtor Dustan Gallas, parceiro de banda na Cidadão Instigado, com quem amplia os limites da obra. Instantes em que Catatau parte de conflitos intimistas, porém, de forma acessível, fazendo das próprias dores um importante componente de amarra e diálogo com o ouvinte.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.