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Crítica

Fever Ray

: "Radical Romantics"

Ano: 2023

Selo: Rabid / Mute

Gênero: Eletrônica, Electropop, Experimental

Para quem gosta de: Björk e Planningtorock

Ouça: What They Call Us, Shiver e Carbon Dioxide

8.5
8.5

Fever Ray: “Radical Romantics”

Ano: 2023

Selo: Rabid / Mute

Gênero: Eletrônica, Electropop, Experimental

Para quem gosta de: Björk e Planningtorock

Ouça: What They Call Us, Shiver e Carbon Dioxide

/ Por: Cleber Facchi 16/03/2023

Mais de duas décadas depois de estrear como integrante do The Knife, Karin Dreijer segue como uma das figuras mais provocativas, estranhas e originais da música recente. Dotada de um delirante senso estético, a multiartista de origem sueca continua a se aventurar na produção de obras marcadas por uma série de elementos bastante característicos, principalmente na escolha dos timbres e estruturas das composições, mas que encantam pela completa imprevisibilidade dos temas. É como a passagem para um mundo torto, conceito que volta a se repetir com a chegada do exploratório Radical Romantics (2023, Rabid / Mute).

Terceiro e mais recente trabalho de estúdio sob o título de Fever Ray, o registro de dez faixas segue uma abordagem parcialmente distinta em relação ao material entregue em Plunge (2017). Longe da aceleração explícita no álbum anterior, estimulando a sensação de queda livre durante toda a execução da obra, Dreijer investe na construção de um repertório atmosférico, como um regresso aos temas incorporados no autointitulado disco de estreia, de 2009. São composições que se revelam aos poucos, convidando o ouvinte a se perder em um labirinto de sensações que parece desvendado em essência apenas por Karin.

Escolhida como música de abertura do disco, What They Call Us funciona como uma boa representação desse resultado. Enquanto os versos se projetam a partir de diferentes indagações (“A pessoa que veio aqui estava quebrada / Consegues consertar isso? Você pode se importar?“), Dreijer utiliza dos mais de quatro minutos da faixa para trabalhar no uso dos sintetizadores, texturas e batidas de forma sempre meticulosa. Um precioso exercício criativo que mais oculta informações do que necessariamente oferece respostas fáceis ao ouvinte, direcionamento que se reflete até os minutos finais, na atmosférica Bottom of the Ocean.

Entretanto, antes de alcançar a canção de encerramento, Dreijer brinca com as possibilidades durante toda a execução do trabalho. Logo na abertura do disco, em Shiver, são os versos lascivos e a riqueza dos arranjos que capturam a atenção do ouvinte. Minutos à frente, em Carbon Dioxide, Fever Rey estreita a relação com as pistas enquanto conta com o suporte e batidas complementares do produtor britânico Vessel. Outra que também impressiona é a já conhecida Kandy, composição que parece apontar para o mesmo território criativo explorado pelo The Knife em obras como Deep Cuts (2003) e Silent Shout (2006).

Observado atentamente, Radical Romantics talvez seja o trabalho que mais se aproxima das antigas criações de Dreijer em parceria com o irmão, o produtor Olof Dreijer. E isso pode ser percebido não apenas na formação das batidas, sintetizadores sempre característicos e uso remodelado dos vocais, como na construção dos versos que partem de conflitos pessoais para se aprofundar em temas que vão de questões de gênero à libertação sexual. Nada que impossibilite Fever Ray de avançar criativamente, buscar por novas temáticas e até mesmo estreitar relações com diferentes colaboradores durante a execução do disco.

Exemplo disso acontece em Even It Out, música em que conta com coprodução da dupla Trent Reznor e Atticus Ross, rompe musicalmente com o restante da obra e sustenta nos versos uma reflexão sobre um episódio em que um dos filhos sofreu violência dentro da própria escola. Surgem ainda canções como Looking for a Ghost, com a portuguesa Nídia, e a reducionista North, que transportam o som de Fever Ray para um novo território. Um misto de preservação da própria identidade e necessária desconstrução de tudo aquilo que Dreijer tem incorporado criativamente desde as primeiras empreitadas em estúdio.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.