Image
Crítica

FKA Twigs

: "Caprisongs"

Ano: 2022

Selo: Young / Atlantic

Gênero: R&B, Pop

Para quem gosta de: Kelela, Solange e Arca

Ouça: Oh My Love, Careless e Darjeeling

7.6
7.6

FKA Twigs: “Caprisongs”

Ano: 2022

Selo: Young / Atlantic

Gênero: R&B, Pop

Para quem gosta de: Kelela, Solange e Arca

Ouça: Oh My Love, Careless e Darjeeling

/ Por: Cleber Facchi 19/01/2022

Desde o início da carreira, sempre existiu uma pressão enorme envolvendo cada novo trabalho de estúdio de FKA Twigs. Da escolha dos produtores à composição das letras, da montagem do repertório à seleção do figurino, cada mínimo elemento parece cuidadosamente calculado e encaixado, evidenciando o domínio criativo, entrega e exigência da artista inglesa. Interessante perceber em Caprisongs (2022, Young / Atlantic), primeira mixtape revelada pela cantora, uma obra que não apenas se distancia do refinamento explícito nos registros anteriores, como ainda abre passagem para um universo de novas possibilidades.

Mesmo conceitualmente regido pela temática astrológica, cada fragmento do disco parece transportar o ouvinte para um novo território criativo. São canções que naturalmente preservam a relação particular da cantora com a música pop e o R&B, porém, partindo de um desenho torto e irregular. Não por acaso, esse é justamente o trabalho em que FKA Twigs mais se permite estreitar a relação com diferentes colaboradores dentro de estúdio. São nomes como El Guincho, com quem assina a produção executiva, Arca, Koreless, Sega Bodega, Mike Dean e Tobias Jesso Jr. que surgem e desaparecem durante toda a execução da obra.

E isso fica bastante evidente em toda a série de artistas que ocupam os versos em parte expressiva das canções. Do lirismo melancólico de Careless, bem-sucedido encontro com Daniel Caesar, passando pelas rimas de Pa Salieu, em Honda, sobram momentos em que a cantora amplia consideravelmente o próprio campo da atuação. Mesmo a base instrumental do trabalho, agora pontuada por elementos que vão do hyperpop (Pamplemousse) ao dancehall (Papi Bones), rompe com a arquitetura homogênea dos registros que o antecedem, vide a forte aproximação entre as faixas no curto repertório de Magdalene (2019).

Embora diverso, Caprisongs está longe de parecer um trabalho confuso. Como indicado logo nos primeiros minutos da obra – “Eu fiz uma mixtape para você. Porque quando eu sinto você, eu me sinto” –, FKA Twigs estabelece no forte aspecto sentimental dos versos um precioso componente de aproximação. São canções consumidas pela saudade, relacionamentos conturbados, medo e isolamento vivido pela compositora britânica. Um precioso exercício de entrega sentimental, direcionamento que fica ainda mais evidente em toda a série de faixas assumidas pela artista de forma solitária, caso de Oh My Love e Thank You Song.

Claro que tamanha vulnerabilidade e entrega no processo de construção dos versos não justifica uma série canções que contribuem para o inchaço da obra. Com exceção de Darjeeling, colaboração com Jorja Smith e Unknown T, parte expressiva da porção final do registro parece consumida pelos excessos, revelando uma sequência de faixas que pouco acrescentam quando próximas do bloco inicial do trabalho. O próprio uso excessivo de interlúdios potencializa esse resultado. São fragmentos de vozes e ruídos que garantem maior profundidade ao álbum, mas que invariavelmente acabam minando a experiência do ouvinte.

Independente do direcionamento dado ao trabalho, Caprisongs mantém firme o mesmo refinamento estético e potência da obra de FKA Twigs. Seja na busca por uma sonoridade cada vez mais acessível, como na colaborativa Tears In The Club, encontro com The Weeknd, ou nos momentos de maior exposição sentimental, difícil não se deixar conduzir pelo fino repertório que embala a experiência do ouvinte até a derradeira Thank You Song. É como uma extensão natural de tudo aquilo que a cantora havia testado nos registros anteriores, porém, partindo de uma abordagem menos hermética e consequentemente sensível.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.