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Ano: 2022

Selo: Polydor / UMG Recordings

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Lorde, St. Vincent e Kate Bush

Ouça: Free e My Love

7.5
7.5

Florence + The Machine: “Dance Fever”

Ano: 2022

Selo: Polydor / UMG Recordings

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Lorde, St. Vincent e Kate Bush

Ouça: Free e My Love

/ Por: Cleber Facchi 31/05/2022

Florence Welch sempre foi uma especialista em lidar com as emoções humanas. Do minucioso processo de construção dos versos ao direcionamento catártico que embala a formação dos arranjos e vozes, sobram momentos em que a cantora e compositora britânica se articula de forma a comover o ouvinte. E isso se reflete em toda a sequência de obras como Florence + The Machine, vide a entrega explícita em Lungs (2009), passando pelo amadurecimento estético em Ceremonials (2011) à força de How Big, How Blue, How Beautiful (2015). Mesmo registros menores, como High as Hope (2018), em nenhum momento pervertem a capacidade da artista em fazer dos próprios sentimentos um componente de diálogo com o público.

Essa mesma potência no processo de criação fica ainda mais evidente com a chegada de Dance Fever (2022, Polydor / UMG Recordings). Primeiro registro de inéditas da artista inglesa em um intervalo de quatro anos, o sucessor de High as Hope nasce como um precioso exercício de libertação pessoal. Acompanhada pelo produtor Jack Antonoff (Taylor Swift, Lorde), Welch investe na construção de um repertório de essência grandiosa e adornado pelo uso de temas orquestrais, porém, sempre pontuado pelo criativo diálogo com a música pop, como um regresso sutil ao material revelado nos primeiros discos.

Não por acaso, ao inaugurar o disco, Welch entrega ao público duas criações completamente distintas, mas que estabelecem uma série de conexões com outros registros apresentados pela cantora. Enquanto King avança em uma medida própria de tempo, destacando o uso das vozes e versos que apontam para o repertório de Ceremonials, Free, logo em sequência, soa como uma típica canção de Lungs. Do ritmo dado aos sintetizadores de batidas, passando pela fluidez dos vocais, cada elemento parece pensado para alavancar a letra que discute saúde mental e busca por libertação. “Isso me pega, me coloca pra baixo / Mas eu ouço a música, sinto a batida / E por um momento, quando estou dançando, estou livre“, canta.

É partindo justamente dessa estrutura que Welch aponta a direção seguida até o fechamento da obra. De um lado, composições trabalhadas em uma medida própria de tempo, ainda que avassaladoras, como se pensadas para as apresentações ao vivo; no outro, criações que se revelam por completo logo em uma primeira audição, capturando a atenção do ouvinte sem grandes dificuldades. O resultado desse processo está na entrega de um registro que não apenas funciona como uma resposta ao direcionamento moroso do lançamento anterior, como resgata o mesmo dinamismo proposto em How Big, How Blue, How Beautiful.

Nada que prejudique a construção de faixas deliciosamente atmosféricas e reducionistas. Exemplo disso fica bastante evidente em Back in Town. Regida em essência pelas vozes da cantora, a faixa sustenta na força dos versos um dos momentos de maior comoção da obra. “Eu vim pelo prazer, mas fiquei / Sim, eu fiquei pela dor“, confessa. A própria sequência de fechamento, composta por The Bomb e Morning Elvis, evidencia uma clara mudança de ritmo em relação ao bloco inicial. É como se passada a turbulência expressa em Heaven Is Here, Daffodil e My Love, um dos destaques do trabalho, Welche transportasse o ouvinte para um território marcado pela evidente sutileza dos arranjos e uso calculado dos elementos.

Tamanho equilíbrio no processo de construção do material faz de Dance Fever um trabalho que pouco avança em termos de sonoridade e na escolha dos temas explorados pela cantora, mas que convence pela força das composições e ritmo dado ao material. Tão logo tem início, nas crescente King, cada fragmento do disco parece pensado de forma a orientar a experiência do ouvinte até os momentos finais da obra. São canções que oscilam entre momentos de maior celebração e versos consumidos pela dor, como uma extensão natural de tudo aquilo que tem sido incorporado pela artista em mais de uma década de carreira.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.