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Crítica

Forest Swords

: "Bolted"

Ano: 2023

Selo: Ninja Tune

Gênero: Experimental, Dub

Para quem gosta de: Andy Stott e Blanck Mass

Ouça: Butterfly Effect e Munitions

7.8
7.8

Forest Swords: “Bolted”

Ano: 2023

Selo: Ninja Tune

Gênero: Experimental, Dub

Para quem gosta de: Andy Stott e Blanck Mass

Ouça: Butterfly Effect e Munitions

/ Por: Cleber Facchi 16/11/2023

Mais de uma década depois de ser oficialmente apresentado com o lançamento de Dagger Paths (2010), Mathew Barnes continua a fazer do Forest Swords um território aberto à experimentação. Com Bolted (2023, Ninja Tune) como o mais recente trabalho de estúdio, o produtor inglês se aventura na criação de composições marcadas pelo uso de componentes sintéticos, ruídos, quebras e texturas industriais, mas que se articulam de forma essencialmente orgânica. São canções que parecem jogar com regras próprias, como organismos vivos que assumem diferentes formatações e percursos durante toda a execução do material.

Música de abertura do disco, Munitions sintetiza parte desse direcionamento criativo, porém, é apenas uma pequena mostra de tudo aquilo que Barnes busca desenvolver no decorrer do trabalho. São pouco menos de quatro minutos em que o compositor brinca com a sobreposição dos elementos em uma abordagem tão hipnótica quanto incômoda. Da base cíclica que envolve o ouvinte, passando pelo uso retorcido das vozes e ruídos metálicos, perceba como o britânico parece jogar com instantes. Frações instrumentais e rítmicas que um dia fizeram parte de algo compreensível, mas que hoje se projetam de forma totalmente abstrata.

Exemplo mais representativo disso pode ser percebido em Butterfly Effect. Concebida a partir de vozes inéditas de Neneh Cherry, a canção se parece com tudo, menos com uma possível criação da cantora e compositora sueca. Nas mãos de Barnes, tudo se transforma em um elemento desfigurado, como uma interpretação sonora de um pesadelo aterrorizante. A própria imagem de capa do disco, com uma figura aprisionada e retorcida funciona como uma representação visual desse resultado. É como se cada ângulo (ou escuta) favorecesse uma compreensão diferente, proposta que se reflete até os minutos finais da obra.

Embora regido pela lógica incerta de Barnes, jogando com a interpretação do ouvinte, Bolted, como tudo aquilo que o produtor inglês tem revelado desde as primeiras criações, se articula de forma homogênea. Seja pela escolha dos filtros aplicados aos vocais, tratamento dado aos arranjos e batidas, não é difícil perceber um enquadramento estrutural que esteticamente aproxima cada uma das músicas que integram o material. Basta comparar faixas como Butterfly Effect e The Low, posicionadas em pontos completamente distintos do trabalho, para perceber a forte aproximação entre as composições apresentadas pelo artista.

Claro que para os ouvidos desatentos esse tipo de abordagem pode ser interpretada de forma negativa, como se o disco desse voltas em torno de um mesmo território criativo. O próprio compositor acaba se repetindo em diversos momentos da obra, resgatando estruturas e formas instrumentais anteriormente testadas em registros como Engravings (2013) e Compassion (2017). Entretanto, assim como os trabalhos que o antecedem, a real beleza de Bolted está nos detalhes. São inserções quase imperceptíveis, texturas e quebras rítmicas que levam o ouvinte para direções sempre inesperadas, vide faixas como Night Sculpture.

Por vezes difícil de classificar, como parte expressiva das criações de Barnes, Bolted é uma combinação de elementos que vai da relação do compositor com diferentes formas de arte, vide o trabalho como designer gráfico, ao ambiente que o cerca. Gravado no armazém de uma fábrica em Liverpool, o que justifica o caráter industrial da obra, o álbum é tanto uma extensão dos registros que o antecedem como a passagem para um cenário marcado por novas possibilidades. Dejetos instrumentais e retalhos de vozes que seriam facilmente descartados por outros artistas, mas que se transformam em matéria-prima para Forest Swords.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.