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Crítica

Frank Jorge / Kassin

: "Nunca Fomos Tão Lindos"

Ano: 2021

Selo: Marquise 51

Gênero: Pop Rock, Indie, Synthpop

Para quem gosta de: Bidê ou Balde e Tatá Aeroplano

Ouça: Não Lembro Bem do Meu Pai e Fruto de Energia

7.0
7.0

Frank Jorge & Kassin: “Nunca Fomos Tão Lindos”

Ano: 2021

Selo: Marquise 51

Gênero: Pop Rock, Indie, Synthpop

Para quem gosta de: Bidê ou Balde e Tatá Aeroplano

Ouça: Não Lembro Bem do Meu Pai e Fruto de Energia

/ Por: Cleber Facchi 23/04/2021

Dois dos nomes mais inventivos e loucos da música brasileira estão juntos no colaborativo Nunca Fomos Tão Lindos (2021, Marquise 51). De um lado, o cantor e compositor gaúcho Frank Jorge, multi-instrumentista conhecido pelas criações no Graforréia Xilarmônica, Os Cascavelletes e Cowboys Espirituais, mas que acumula uma sequência de registros importantes em carreira solo, entre eles, o ótimo Carteira Nacional de Apaixonado (2000) e Vida de Verdade (2003). No outro, o produtor carioca e sempre requisitado Alexandre Kassin, artista que já colaborou com nomes como Los Hermanos, Clarice Falcão e Marcos Valle, e que somente na última década deu vida a dois importantes trabalhos autorais, caso do psicodélico Sonhando Devagar (2011) e o aindaa recentemente, Relax (2018).

Com título inspirado no conto Nunca Fomos Tão Felizes, de João Gilberto Noll, o trabalho de essência anárquica transita por entre ritmos e referências de maneira sempre delirante. São canções que apontam para diferentes campos da música brasileira e internacional, porém, ainda íntimas do pop torto que caracteriza as criações de cada colaborador. Exemplo disso acontece logo nos primeiros minutos do disco, em Fruto de Energia, composição que ganha forma em meio a citações à obra de Gilberto Gil e Arnaldo Baptista, melodias e versos que parecem pensados para grudar na cabeça do ouvinte. “Será que é preciso / ser literal / pra dizer o que eu acho legal?“, questiona a letra que se divide entre momentos de maior escapismo e curioso olhar para o atual cenário político do país.

São justamente esses pequenos contrastes e quebras conceituais que tornam a experiência de ouvir o álbum tão satisfatória. Instantes em que a dupla alterna entre poemas críticos e momentos de maior leveza de forma essencialmente versátil. Perfeita representação desse resultado acontece na curtinha O Que Vou Postar Aqui. Uma das primeiras composições do disco a serem apresentadas ao público, a canção incorpora uma série de elementos bastante característicos e talvez desgastados em reflexões sobre o uso exagerado das redes sociais, porém, estabelece na base eletrônica e divertido jogo de palavras uma completa fuga de possíveis clichês. “Uma foto bem provocadora / Uma frase bem agressiva / O que será que o nosso mundo necessita?“, brinca a letra da canção.

Esse mesmo direcionamento criativo, porém, partindo de uma nova abordagem temática, acaba se refletindo na agridoce Não Lembro Bem do Meu Pai. Enquanto os versos da canção mergulham em reflexões melancólicas – “Penso que quando eu partir / Nem tudo vai acabar / É bem normal esquecer / A vida não pode parar” –, musicalmente a dupla convida o ouvinte a dançar. Da construção das batidas ao uso das cordas, cada elemento da faixa parece apontar para as pistas dos anos 1970 e 1980. A própria Tô Negativado, com suas guitarras paraenses e melodias tropicais, carrega na letra da composição uma série de experiências tragicômicas que parecem típicas da obra de Frank Jorge. “Não posso dizer que sou feliz mas juro / que estou tentando, estou tentando“, confessa.

Dentro desse cenário marcado pelas possibilidades, surgem músicas como a curiosa Carl Gustav Jung, composição que faz lembrar das antigas canções de personagens de Júpiter Maçã, parceiro de longa data de Jorge, mas que cresce nas experimentações eletrônicas de Kassin, conceito que tem sido explorado pelo artista desde a boa fase no paralelo Artificial. Mais à frente, em Foi Ontem, um criativo cruzamento de ideias que costura passado e presente de forma tão nostálgica quanto atualizada. Instantes em que a dupla traz de volta as harmonias de vozes típicas de uma balada romântica dos anos 1960, porém, completa pela habitual base eletrônica do produtor carioca. Mesmo Sinceridade, faixa de encerramento do disco, encanta justamente pelo aspecto retro-futurista dado ao material.

Partindo dessa colorida sobreposição de ideias e preferências criativas, a dupla garante ao público uma obra talvez confusa aos ouvidos não iniciados, porém, consistente com a proposta de cada realizador. Como indicado logo nos primeiros minutos da obra, são variações instrumentais e poéticas que se entrelaçam sem ordem aparente, como se cada composição servisse de passagem para um novo território criativo. O resultado desse processo está na entrega de uma obra que passeia por momentos de maior experimentação e faixas deliciosamente acessíveis, feitas para serem absorvidas logo em uma primeira audição. Composições que discutem experiências pessoais, conflitos mundanos e políticos, porém, partindo sempre da estranha e bem-humorada visão de mundo de cada parceiro.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.