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Crítica

Frankie Rose

: "Love as Projection"

Ano: 2023

Selo: Slumberland

Gênero: Synthpop, Dream Pop

Para quem gosta de: Wild Nothing e Chromatics

Ouça: Anything e Come Back

7.3
7.3

Frankie Rose: “Love as Projection”

Ano: 2023

Selo: Slumberland

Gênero: Synthpop, Dream Pop

Para quem gosta de: Wild Nothing e Chromatics

Ouça: Anything e Come Back

/ Por: Cleber Facchi 04/04/2023

A última vez que ouvimos a voz de Frankie Rose foi há quatro anos. Na ocasião, a cantora e compositora que sempre manteve forte diálogo com a música produzida na década de 1980, decidiu regravar cada uma das composições de Seventeen Seconds, segundo trabalho de estúdio dos ingleses do The Cure e um dos registros mais emblemáticos do período. Agora, com a chegada de mais um novo trabalho de inéditas, o delicado Love as Projection (2022, Slumberland), a artista norte-americana continua a viajar pelo passado, porém, partindo de um necessário senso de atualização em que reforça aspectos da própria identidade.

Deliciosamente nostálgico, como tudo aquilo que a artista tem incorporado desde a estreia em carreira solo, com Interstellar (2012), o trabalho de dez faixas é um registro pensado para causar sensações. Do uso das vozes, sempre atmosféricas e enevoadas, passando pelo tratamento dado aos sintetizadores e batidas, Rose utiliza de uma série de elementos testados há mais de três décadas para se conectar com o ouvinte. São composições que parecem extraídas de uma antiga estação de rádio, como a trilha sonora de uma viagem noturna que se conecta diretamente aos versos, memórias e sentimentos expressos pela musicista.

Então está feito, diga adeus para mim / Que dor, energia desperdiçada“, canta na já conhecida Come Back, música que se espalha em meio a sintetizadores que parecem saídos da trilha sonora de Drive (2011), de Cliff Martinez. Pouco mais de quatro minutos em que Rose brinca com a sobreposição dos elementos, transforma os vocais em um precioso instrumento e avança em uma medida própria de tempo, capturando a atenção do ouvinte sem grandes dificuldades. Um misto de passado e presente que segue de onde a artista havia parado durante o lançamento de Cage Tropical (2017), último registro de inéditas da carreira.

Claro que isso está longe de parece uma novidade para quem acompanha o trabalho de Rose desde o início da década passada. Da estreia com Interstellar, passando por registros como o cinzento Herein Wild (2013), sobram momentos em que a artista utiliza de uma abordagem contemplativa, cercando e confortando o ouvinte durante toda a execução do material. Exemplo disso acontece em Had It Wrong, faixa que destaca a sutileza dos arranjos, melodias e vozes, porém, pouco difere de outras composições anteriormente apresentadas pela cantora, vide criações como Pair of Wings e Dancing Down the Hall.

Entretanto, uma coisa acaba chamando a atenção em Love as Projection: o fascínio de Rose pela música pop. Embora marcado pelo direcionamento atmosférico, não são poucos os momentos em que o disco se projeta de forma a valorizar o lado mais acessível da cantora. Segunda faixa do trabalho, Anything talvez seja a canção que melhor evidencia esse resultado. Da letra pegajosa ao uso sempre destacado dos sintetizadores, lembrando o Fleetwood Mac do álbum Tango in the Night (1987), difícil não se deixar conduzir pela composição que ainda abre passagem para uma sequência de outras criações similares.

Estruturalmente dividido entre momentos de maior calmaria e composições que evidenciam o aspecto radiofônico do trabalho, Love as Projection mais uma vez destaca a versatilidade de Rose em estúdio. Mesmo que muitos dos elementos incorporados ao longo do álbum pareçam resgatados do repertório apresentado em Interstellar, Herein Wild e Cage Tropical, o esmero e forte carga emocional da artista durante todo o processo de criação tende a convencer o ouvinte. É como um registro das experiências, romances e pequenas desilusões vividas pela própria cantora desde a última empreitada em estúdio.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.