Em The Weight of the News (2023, Minaret Records), a música de Frederico Heliodoro chega como um chamado à aventura. “Eu quero derrubar essas paredes entre nós / Descobrir o espaço sideral que vem após / Ver os meus zilhões de mundos / Saber que não estamos sós“, confessa o multi-instrumentista, cantor e compositor na introdutória Interestelar. Marcada pelo refinamento dos arranjos e melodias que parecem pensadas para grudar na cabeça do ouvinte logo em uma primeira audição, a faixa é apenas o princípio de uma seleção de outras composições marcadas pelo minucioso processo de criação e versos que ora se aprofundam em conflitos pessoais, ora detalham cenas e acontecimentos que cercam o artista mineiro.

Primeiro registro de inéditas desde o material entregue em Acordar (2015), o trabalho de onze canções destaca o refinamento estético e aceno de Heliodoro para o passado. São composições que evocam as criações de veteranos como Guilherme Arantes, Lô Borges e Milton Nascimento, com quem excursionou na turnê A Última Sessão de Música, porém, preservando a identidade do músico mineiro. Um delicioso cruzamento de informações que confessa algumas das principais referências do compositor ao mesmo tempo em que estreita relações com diferentes instrumentistas vindos dos mais variados cantos do planeta.

Exemplo disso acontece em A Vida Que Vem, quinta faixa do disco. Enquanto os versos partem de um olhar crítico sobre a nossa sociedade (“Pelo amor de Deus / Nem Deus dá pra mencionar / Quem mais fala por ele / É em quem não posso confiar“), Heliodoro abre passagem para a chegada da violinista francesa Héloise Lefebvre, o pianista norte-americano Chris Fishman e o multi-instrumentista paulistano Antonio Loureiro. São delicadas camadas instrumentais que se revelam ao público em pequenas doses, sem pressa. Canções que alcançam um precioso ponto de equilíbrio entre o pop empoeirado da década de 1970 e jazz.

Dessa forma, cada composição funciona como um objeto a ser explorado. Em Essa Noite, logo na abertura do disco, são as bases cíclicas e vozes cuidadosamente trabalhadas que se completam pela bateria de Felipe Continentino. Já em Better WIFI, com versos cantados em inglês, são as camadas de sintetizadores e ambientações enevoadas que correm ao fundo da canção. Mais à frente, em Pedras Pra Esculpir, criação que se completa pela presença dos músicos Kurt Rosenwinkel e Marcus Abjaud, são as guitarras, sempre acompanhadas pela bateria de Continentino, que concedem beleza ao material e capturam a atenção.

Embora marcado pela combinação de elementos e criativo diálogo com diferentes colaboradores, The Weight of the News em nenhum momento soa como uma obra desequilibrada. Da escolha dos timbres, passando pelas temáticas e direcionamento dado aos arranjos, tudo parece orbitar um universo criativo bastante característico. São composições que parecem dançar pelo tempo. Um misto de passado e presente que vez ou outra parece consumido pelas próprias referências, mas em nenhum momento deixa de surpreender o ouvinte, efeito direto do esmero do compositor durante toda a execução do trabalho.

É como se Heliodoro resgatasse uma série de elementos que tem sido incorporados desde os primeiros trabalhos de estúdio, porém, partindo de um precioso senso de renovação. Canções que vão dos temas jazzísticos de Verano (2013) e New Arrocha Post Archaic (2014) ao rock contemplativo do disco anterior de forma sempre atualizada. Com base nessa estrutura, difícil não pensar em The Weight of the News como um exercício de reapresentação do músico mineiro. Um olhar curioso para o próprio repertório, mas que aos poucos se abre para a chegada de novos colaboradores, diferentes ritmos e inúmeras possibilidades.

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