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Crítica

Friko

: "Where We’ve Been, Where We Go From Here"

Ano: 2024

Selo: ATO

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Car Seat Headrest e Lifeguard

Ouça: Crimson To Chrome e Chemical

8.3
8.3

Friko: “Where We’ve Been, Where We Go From Here”

Ano: 2024

Selo: ATO

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Car Seat Headrest e Lifeguard

Ouça: Crimson To Chrome e Chemical

/ Por: Cleber Facchi 23/02/2024

Oficialmente, apenas os músicos Niko Kapetan (voz, guitarra) e Bailey Minzenberger (bateria) integram o Friko, porém, a sensação que temos ao ouvir Where We’ve Been, Where We Go From Here (2024, ATO), primeiro álbum de estúdio da dupla de Chicago, é a de que estamos de posse de uma obra maior, feita a muitas mãos. Parte desse resultado vem do natural surgimento de colaboradores ocasionais, entre eles o produtor Scott Tallarida e um reduzido time responsável pelos arranjos de cordas. Entretanto, são os ecos de veteranos da cena independente do dos anos 1990 e 2000 que realmente concedem força ao material.

Arcade Fire, Broken Social Scene, Built To Spill, Clap Your Hands Say Yeah e Neutral Milk Hotel são apenas alguns dos nomes que instantaneamente vem à cabeça tão logo o trabalho tem início. A própria imagem de capa, uma criação artesanal de Carolina Chauffe, pode ser facilmente interpretada como uma combinação entre as artes de Fevers and Mirros (2000) e I’m Wide Awake, It’s Morning (2005) do Bright Eyes. É como se décadas de referências, diferentes estilos e estéticas fossem reorganizadas dentro de um mesmo repertório.

Contudo, para além do nostálgico resgate de referências, prevalece em Where We’ve Been, Where We Go From Here a sensação de um material que caminha com suas próprias pernas. Utilizando de uma poética existencial e profundamente melancólica, Kapetan cria um minucioso retrato do abandono e a ausência de perspectiva vivida por milhares de jovens norte-americanos. “De cabeça baixa / Fomos deixados sozinhos / Esticados / Deitados no gramado“, canta em Crimson To Chrome, composição que avança aos poucos, sem pressa, porém, desemboca em uma catártica combinação de vozes, guitarras altamente ruidosas e batidas.

E ela não é a única. Minutos à frente, Crashing Through mantém a mesma energia em alta e não apenas traz de volta a essência coletiva do Arcade Fire em Funeral (2004), como partilha da mesma potência explícita na boa fase de artistas ainda recentes como Car Seat Headrest. São camadas de ruídos, vozes em coro e pequenos atravessamentos de informações, direcionamento que ganha ainda mais destaque com a chegada da turbulenta Chemical, música que estabelece nos versos essa completa ausência de certeza que move o trabalho da banda. “O quebra-cabeça nunca se resolve / Porque é tudo / Químico”, reflete Kapetan.

Interessante notar que, ao mesmo tempo em que edifica blocos de guitarras quase intransponíveis, Where We’ve Been, Where We Go From Here cria momentos de maior vulnerabilidade sentimental que concedem equilíbrio ao repertório apresentado por Kapetan e Minzenberger. Das orquestrações sublimes que tomam conta de For Ella, centrada em uma personagem que parece se perder pela névoa da memória, passando pela fragilidade explícita em Until I’m With You Again, com seus pianos e vozes em primeiro plano, não são poucos os momentos em que a dupla estadunidense busca dialogar com o ouvinte por meio das emoções.

Toda essa turbulência sentimental, poética, rítmica e instrumental faz de Where We’ve Been, Where We Go From Here um material ainda em formação, como um típico registro de estreia, mas que sabe exatamente onde quer chegar. O próprio título do trabalho, em português, “onde estivemos, para onde vamos a partir daqui“, funciona como uma inteligente representação desse senso de descoberta e continua transformação proposta pelos membros da banda. São ideias conflitantes que parecem dançar pelo tempo, estreitando laços com o passado, mas que em nenhum momento ocultam a identidade criativa da dupla de Chicago.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.