Image

Ano: 2023

Selo: Matraca Records / YB Music

Gênero: Indie, Folk, MPB

Para quem gosta de: Tim Bernardes e Ítallo

Ouça: Silêncio Brutal e Grande Hotel São João

8.5
8.5

Gabriel Milliet: “Um”

Ano: 2023

Selo: Matraca Records / YB Music

Gênero: Indie, Folk, MPB

Para quem gosta de: Tim Bernardes e Ítallo

Ouça: Silêncio Brutal e Grande Hotel São João

/ Por: Cleber Facchi 07/09/2023

Muito embora acumule passagens por bandas como Grand Bazaar e Memórias de um Caramujo, difícil não pensar em Um (2023, Matraca Records / YB Music) como um exercício de reapresentação para Gabriel Milliet. Primeiro disco em carreira solo do cantor e compositor paulistano, o material contrasta a maciez dos arranjos com o lirismo angustiado do poeta que, ao mudar-se para Amsterdam, na Holanda, foi consumido pela saudade. “Não quero atrapalhar ninguém / Mas tá difícil de aguentar / Esse silêncio brutal / Essa distância fatal“, confessa na introdutória Silêncio Brutal, espécie de composição-síntese do registro.

Partindo dessa abordagem tão entristecida quanto esperançosa, Milliet trata de cada canção como um objeto precioso. São delicadas paisagens instrumentais que passeiam em meio a versos descritivos, diferentes cenas e personagens de forma sempre detalhista. Um canto meio declamado que evoca nomes como Belchior, mas que em nenhum momento oculta a identidade e a capacidade do músico paulistano em transformar o ordinário em algo grandioso. Exemplo disso fica bastante evidente em Grande Hotel São João, composição que avança aos poucos, sem pressa, como um passeio sonoro pelas ruas de São Paulo.

Vem justamente dessa relação do artista com a cidade o estímulo para parte expressiva do repertório de Um. Canções como a textual Rua Vitória, em que parte do universo ao redor para mergulhar nas próprias inquietações de forma bastante sensível. “Confesso que dessa varanda olhando o largo do Arouche, me sinto estranho … Será que teremos futuro?“, questiona. Já outras, como a reducionista Carta De Natal, funcionam como um passeio pela mente de Milliet, destacando a melancolia impressa nos versos. “Meu amigo, eu sinto a sua falta / Eu quero te abraçar e te dizer / Das coisas que eu já não sinto medo“, canta.

Tamanha quantidade de informações naturalmente exige uma audição atenta e dedicação por parte do ouvinte, porém, o gratifica na mesma proporção. Feito para ser absorvido aos poucos, Um é o tipo de obra que ganha novas tonalidades a cada regresso, direcionamento que se reflete não apenas na construção dos versos, sempre detalhistas, como crônicas musicadas, mas na fina tapeçaria instrumental que cobre todo o material. Inicialmente pensado como um registro produzido e gravado integralmente por Milliet, o álbum ganhou novas tonalidades na coprodução de Biel Basile, antigo companheiro de banda na Grand Bazaar.

O resultado desse processo está na entrega de criações como a derradeira Da Paz Inevitável, música que se revela aos poucos, partindo de um violão tímido de Milliet, para se completar pela flauta de Teresa Costa e vozes de Sanem Kalfa, Fuensanta e do próprio Basile. Outra que chama a atenção pelo avanço lento e riqueza de detalhes é a já citada Grande Hotel São João. São pouco menos de quatro minutos em que pianos, flautas e violões se espalham em meio a entalhes percussivos do coprodutor, estrutura que ainda culmina em um fechamento grandioso, efeito da sobreposição de vozes tratadas como um instrumento.

Capaz de encantar na mesma medida em que estabelece pequenas provocações durante sua execução, Um destaca a sensibilidade poética e capacidade de Milliet em transitar por diferentes temáticas mesmo em um curto intervalo de tempo. São reflexões sobre o período pandêmico, tormentos e crônicas urbanas que garantem maior profundidade ao material. Canções que, vez ou outra, partilham de um reducionismo excessivo em se tratando dos arranjos e pequenas repetições estruturais, principalmente na segunda metade do trabalho, mas que a todo momento estreitam laços com o ouvinte por meio das emoções.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.