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Crítica

Gabriel Ventura

: "Pra Me Lembrar de Insistir"

Ano: 2025

Selo: Balaclava Records

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Ian Ramil e Cícero

Ouça: Lamber os Dentes, Fogos e Cor de Laranja

8.5
8.5

Gabriel Ventura: “Pra Me Lembrar de Insistir”

Ano: 2025

Selo: Balaclava Records

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Ian Ramil e Cícero

Ouça: Lamber os Dentes, Fogos e Cor de Laranja

/ Por: Cleber Facchi 16/05/2025

O espirro, o isqueiro tentando ser aceso, o cricrilar suave e o som de um telefone analógico sendo discado. Em Pra Me Lembrar de Insistir (2025, Balaclava Records), as coisas acontecem enquanto Gabriel Ventura tenta se organizar emocionalmente. Composições que se estendem para além do limite das palavras, como se o músico fluminense fosse capaz de transportar para dentro de estúdio o próprio ambiente que o cerca.

Nascido das reflexões de Ventura sobre o fazer artístico, o sucessor de Tarde (2022) é uma obra feita para que o ouvinte se perca dentro dela. Enquanto o músico, que foi apresentado como integrante da Ventre no início da década passada, mergulha de cabeça nas próprias inquietações, camadas instrumentais surgem e desaparecem a todo instante, tornando a sensação de impermanência a única certeza que move o registro.

Olha só, como é ter tudo por um triz / Só me mostra o quanto eu quero”, canta o artista logo nos primeiros minutos do trabalho, em Lamber os Dentes. Mais do que um meticuloso ato de abertura, a canção antecipa uma série de elementos que serão detalhados ao longo do material. São versos ora cantados, ora narrados por Ventura, como um registro vivo que busca existir para além das experiências do próprio idealizador.

Ainda que pareça vagar de maneira contemplativa, Ventura sabe exatamente onde quer chegar. E isso fica bastante evidente na atmosfera criada pelo músico. Mais uma vez acompanhado pelo multi-instrumentista Patrick Laplan, com quem já havia trabalhado anteriormente, o artista equilibra arranjos acústicos com o uso de pequenos atravessamentos de informações que garantem movimento, quebra e fluidez ao material.

Canções como Fogos, Cor de Laranjeira e O Enfeite do Não e o Sim que, mesmo transpassadas pelo incerto, não apenas concluem as ideias e tormentos revelados pelo artista, como ainda dialogam com o ouvinte. Um delicado exercício de exposição emocional, conceito que, vez ou outra, se projeta de maneira piegas, como em Toda Canção, mas em nenhum momento mascara a vulnerabilidade e entrega sentimental de Ventura.

Interessante perceber tamanha exposição justamente no trabalho em que Ventura mais estreita laços com diferentes parceiros em estúdio. São nomes como Aline Gonçalves (clarinete), Arícia Ferigato (harpa), Vitor Araújo (piano), Vovô Bebê (violão) e Yuri Pimentel (baixo) que discretamente surgem ao longo do registro. Uma obra profundamente coletiva em sua forma, ainda que pessoal e totalmente intimista em sua essência.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.