Image
Crítica

Garotas Suecas

: "1 2 3 4"

Ano: 2023

Selo: Freak

Gênero: Pop Rock

Para quem gosta de: O Terno e Maglore

Ouça: Não Tá Tudo Bem e Só Quero Você

7.5
7.5

Garotas Suecas: “1 2 3 4”

Ano: 2023

Selo: Freak

Gênero: Pop Rock

Para quem gosta de: O Terno e Maglore

Ouça: Não Tá Tudo Bem e Só Quero Você

/ Por: Cleber Facchi 31/07/2023

Não que parecessem deslocados da realidade ou talvez escapistas, mas os trabalhos apresentados pelo grupo paulistano Garotas Suecas sempre trataram do uso de temas políticos com bom humor e leveza única quando próximos de outros exemplares da cena brasileira. Entretanto, mesmo a mais sorridente banda dificilmente manteria o caráter espirituoso após quatro anos do desumano governo do presidente Jair Bolsonaro, o avanço do conservadorismo e todo o caos que se instalou durante a pandemia de Covid-19. Vem justamente desse período sombrio o estímulo para o repertório entregue em 1 2 3 4 (2023, Freak).

Quarto e mais recente trabalho de estúdio da banda que hoje conta com Irina Bertolucci (teclados), Nico Paoliello (bateria), Fernando Perdido (baixo) e Tomaz Paoliello (guitarra), o disco segue de onde o grupo parou há seis anos, durante o lançamento de Futuro do Pretérito (2017), porém, destaca a sobriedade dos versos que pintam um retrato minucioso do Brasil após o golpe de 2016 contra a presidenta Dilma Rousseff. São canções que substituem a acidez de obras como Escaldante Banda (2010) e Feras Míticas (2013) em favor de um repertório marcado pela clareza do discurso e temas incorporados pelo quarteto paulistano.

Não por acaso, ao anunciar o lançamento do disco, Não Tá Tudo Bem foi a composição escolhida para inaugurar os trabalhos da banda. “Não sinto o ar puro / Há mais de um ano / Qual é o futuro?“, questiona Tomaz na mesma medida em que afirma: “Não tá tudo bem“. É como uma resposta desesperançosa ao material entregue pelo Garotas Suecas em Tudo Bem, faixa de abertura do primeiro álbum de estúdio do grupo. Instantes em que o quarteto parte do período de isolamento social para mergulhar em conflitos sociais, questões políticas e diferentes tormentos pessoais que se refletem até os minutos finais da obra.

Em Como É Que Pode, são versos que tratam sobre a ignorância que se apodera da massa bolsonarista e outros núcleos conservadores (“Explicar já tentei / Mas não quis escutar / Provas te apresentei / Preferiu ignorar“), conceito também explorado em A Bala Que Era Pra Ser Sua, música que se aprofunda no debate armamentista (“Não quero levar um tiro / Das armas que você fabrica / Não quero ser alvo da violência / Que você põe nas ruas“). Surgem ainda dramas urbanos, como em Marginais e Gentrificação, essa última, uma divertida reflexão sobre a especulação imobiliária que atualmente consome a cidade de São Paulo.

Claro que essa maior seriedade no discurso não interfere na apresentação de faixas que transitam com leveza por outras temáticas. É o caso de Só Quero Você, música que resgata o romantismo de nomes como The Ronettes e The Beach Boys para destacar um dos momentos de maior vulnerabilidade emocional do disco. “Queria que você me visse como eu te vejo / Queria que esse abraço / Se transformasse num beijo“, canta Tomaz. Outra que chama a atenção é Podemos Melhorar, canção que evoca The Beatles tanto na sonoridade quanto no lirismo esperançoso que embala a construção dos versos cantados por Bertolucci.

Uma vez organizados, todos esses elementos culminam na entrega de um registro equilibrado, como o acumulo natural do extenso repertório de uma banda que contabiliza quase duas décadas de carreira. Por conta desse resultado, não espere encontrar em 1 2 3 4 um ponto de ruptura dentro da discografia da banda, mas uma continuidade em relação a tudo aquilo que tem sido apresentado desde a estreia com Escaldante Banda. São canções que partilham de um conforto talvez excessivo em se tratando dos arranjos, mas que sustentam no aspecto provocativo dos versos um importante componente de transformação.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.