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Crítica

Gilla Band

: "Most Normal"

Ano: 2022

Selo: Rough Trade

Gênero: Noise Rock, Pós-Punk

Para quem gosta de: Black Midi e Preoccupations

Ouça: Eight Fivers e Backwash

8.6
8.6

Gilla Band: “Most Normal”

Ano: 2022

Selo: Rough Trade

Gênero: Noise Rock, Pós-Punk

Para quem gosta de: Black Midi e Preoccupations

Ouça: Eight Fivers e Backwash

/ Por: Cleber Facchi 14/10/2022

O ruído ensurdecedor logo nos primeiros minutos de Most Normal (2022, Rough Trade) é apenas uma mostra de tudo aquilo que os integrantes do Gilla Band buscam desenvolver no terceiro e mais recente trabalho de estúdio. Sequência ao material entregue em The Talkies (2019), quando o grupo ainda se apresentava com o título de Girl Band, o registro mostra o que há de mais caótico e imprevisível no tipo de som produzido por Dara Kiely (voz), Alan Duggan (guitarras), Daniel Fox (baixo) e Adam Faulkner (bateria). Canções que parecem desabar como uma pilha de escombros e metais retorcidos na cabeça do ouvinte.

Desafiador, como tudo aquilo que o quarteto de Dublin tem produzido desde o introdutório Holding Hands With Jamie (2015), Most Normal traz de volta uma série de conceitos testados nos dois primeiros trabalhos de estúdio, porém, partindo de uma abordagem essencialmente irregular, torta. São composições montadas a partir da fragmentação dos elementos, como estilhaços reorganizados de maneira desordenada. É como um campo aberto às possibilidades, proposta que parte da natureza inquieta do grupo, mas que acabou estabelecendo no período de isolamento social um espaço de maior efervescência e fina experimentação.

Primeira composição do disco a ser revelada ao público, Eight Fivers sintetiza de maneira caótica tudo aquilo que o grupo irlandês busca desenvolver ao longo da obra. Enquanto versos cíclicos discutem consumismo e memórias traumáticas da infância, camadas de guitarras surgem e desaparecem de forma a contribuir para o ambiente caótico da canção. São estruturas contrastantes e imprevisíveis. Instantes em que o quarteto parte de uma abordagem econômica, regida em essência pela bateria de Faulkner, para logo em seguida brincar com a sobreposição dos elementos, ruídos metálicos, quebras e formas abstratas.

E ela não é a única. Do momento em que tem início, na barulhenta The Gum, prevalece o esforço da banda em testar os próprios limites dentro de estúdio. São músicas que vão de um canto a outro de forma sempre imprevisível, jogando com a interpretação do público. E isso acaba se refletindo até os minutos finais do disco, em Post Ryan. Inaugurada em meio a ruídos que seguem desde a faixa anterior, Pratfall, a composição ganha forma e cresce em uma delirante combinação de ideias. Das guitarras que evocam Public Image Ltd, passando pelo uso fragmentado das vozes, cada elemento da canção parece transportar o ouvinte para um novo território criativo, como um acumulo do que há de melhor no som do quarteto.

O mais interessante é que mesmo marcado pelo forte caráter provocativo, Most Normal em nenhum momento soa como uma obra inacessível. Seja pela frequente repetição das vozes e uso ocasional de guitarras que partem de uma abordagem linear, não são poucos os momentos em que o grupo parece estreitar a relação com o ouvinte. Localizada logo nos minutos iniciais do disco, Backwash funciona como uma boa representação desse resultado. São versos declamados e batidas rápidas que partilham do mesmo direcionamento criativo que tem sido explorado por Fontaines D.C. e outros nomes próximos.

Entretanto, é quando perverte qualquer traço de conforto que o quarteto garante ao público algumas de suas melhores criações. São músicas como a curtinha Gushie e I Was Away, com suas vozes rasgadas e guitarras que apontam para o Nirvana da fase In Utero (1994), que evidenciam a capacidade da banda em brincar com as possibilidades. A própria The Weirds, com quase sete minutos de duração, quebras e improvisos é outra que chama a atenção do ouvinte, arremessado para dentro de um cenário totalmente anárquico. Composições que seguem de onde o grupo parou há três anos, durante a entrega do também inventivo The Talkies, porém, utilizando de uma formatação ainda mais instigante, suja e sempre retorcida.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.