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Crítica

Giovani Cidreira

: "Carnaval Eu Chego Lá"

Ano: 2024

Selo: Dobra Discos

Gênero: MPB

Para quem gosta de: Zé Manoel e Jadsa

Ouça: O Samba e Você e Feira do Rolo

8.0
8.0

Giovani Cidreira: “Carnaval Eu Chego Lá”

Ano: 2024

Selo: Dobra Discos

Gênero: MPB

Para quem gosta de: Zé Manoel e Jadsa

Ouça: O Samba e Você e Feira do Rolo

/ Por: Cleber Facchi 05/12/2024

Sempre que você espera uma coisa de Giovani Cidreira, ele entrega o oposto. Primeiro álbum do cantor e compositor baiano como intérprete, Carnaval Eu Chego Lá (2024, Dobra Discos) funciona como uma ótima representação desse resultado. Celebração à obra do conterrâneo Ederaldo Gentil (1947 – 2012), o registro de onze canções pode até partir de uma releitura do músico que teve suas criações gravadas por nomes de peso como Clara Nunes e Alcione, porém pertence tanto a Cidreira quando qualquer um de seus discos.

Com Feira do Rolo como composição de abertura, Cidreira diz a que veio logo nos minutos iniciais da obra. Diferente da primeira interpretação da faixa, originalmente gravada por Alcione no final da década de 1970 e totalmente voltada ao samba, como muitas das canções de Gentil, a releitura do baiano leva o disco para outras direções. A própria inserção das rimas do rapper Vandal e a produção eletrônica de Mahal Pita e Filipe Castro torna tudo isso ainda mais explícito, indicando a pluralidade de ideias que move o trabalho.

Partindo desse direcionamento, é possível esperar qualquer coisa do artista, menos o óbvio. Em Identidade, por exemplo, o que inicialmente se revela como uma melancólica canção que trata sobre a ciclicidade da vida, os números e repetições que orbitam o cotidiano de um trabalhador, aos poucos se transforma em um potente ato de libertação. Mesmo a reducionista faixa de encerramento, A Saudade Me Mata, de onde vem o título do álbum, sustenta no uso destacado da voz uma importante ferramenta de trabalho para Cidreira.

É como se o artista baiano apontasse a direção e mudasse de percurso no meio do trajeto, explorando as inúmeras possibilidades da obra de Gentil e da própria música brasileira. E ele não vem desacompanhado. Em O Rei, faixa que o introduziu ao trabalho do compositor soteropolitano ainda na adolescência, Cidreira abre passagem para a amiga Josyara, com quem também divide o colaborativo Estreite (2020). Nada que se compare ao material entregue na contemplativa O Samba e Você, precioso encontro com a cantora Céu.

Claro que nem todas as parcerias ao longo do disco parecem capazes de causar o mesmo impacto, como Rose, música que custa a engrenar, reservado as vozes de Alice Caymmi, acompanhada pelo pai, Danilo, apenas para os momentos finais da canção. Entretanto, sempre que o trabalho começa a perder fôlego, Cidreira tira uma carta da manga que mais uma vez muda os rumos da obra. Exemplo disso fica mais do que evidente na posterior O Ouro e a Madeira, em que celebra tanto Gentil, como o time que o acompanha.

Curioso notar que mesmo marcado pela pluralidade de elementos, diferentes parceiros criativos e ritmos, Carnaval Eu Chego Lá nunca foge ao controle do músico baiano, contornando os pequenos excessos que marcam o antecessor Nebulosa Baby (2021). São composições que vão da euforia, como Baticum, ao doce reducionismo, em Provinciano, de forma sempre consistente e musicalmente bem elaborada, proposta que destaca o lirismo e rica obra de Gentil, mas em nenhum momento diminui a potência criativa de Cidreira.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.