Image
Crítica

Girlpool

: "Forgiveness"

Ano: 2022

Selo: ANTI-

Gênero: Indie Pop

Para quem gosta de: Soccer Mommy e Frankie Cosmos

Ouça: Fautline e Dragging My Life into a Dream

7.8
7.8

Girlpool: “Forgiveness”

Ano: 2022

Selo: ANTI-

Gênero: Indie Pop

Para quem gosta de: Soccer Mommy e Frankie Cosmos

Ouça: Fautline e Dragging My Life into a Dream

/ Por: Cleber Facchi 24/05/2022

Em um lento processo de transformação, Avery Tucker e Harmony Tividad foram do som reducionista que marca os primeiros trabalhos do Girlpool, Before the World Was Big (2015) e Powerplant (2017) para a montagem de um repertório cada vez mais grandioso, forte. E isso fica bastante evidente com a chegada de What Caos Is Imaginary (2019), registro que marca o processo de transição de gênero vivido por Tucker, utiliza da permanente costura de ritmos e sustenta no maior destaque dado às guitarras como um importante componente de ruptura estética, direcionamento reforçado em Forgiveness (2022, ANTI-).

Quarto e mais recente trabalho de estúdio da dupla norte-americana, o registro diz a que veio logo nos minutos iniciais, em Nothing Gives Me Pleasure. Enquanto os versos evidenciam a vulnerabilidade explícita nas criações de Tucker e Tividad (“Beije-me como se você quisesse dizer isso, embora eu não saiba o que você está querendo dizer“), ruídos sintéticos, sobreposições e batidas tortas transportam o som produzido pelos dois artistas para um novo território criativo. É como um acumulo natural de tudo aquilo que tem sido testado em estúdio desde o introdutório Before the World Was Big, porém, de forma sempre fragmentada.

Esse mesmo resultado fica ainda mais evidente com a chegada de Lie Love Lullaby, composição que parte de uma base misteriosa, mas que acaba crescendo no uso destacado dos sintetizadores e batidas eletrônicas, como um diálogo torto com a produção dos anos 1990. A própria Junkie, minutos à frente, amplia esse conceito sintético, porém, de forma reducionista, quase acolhedora. São vozes doces que se completam pelo uso calculado das batidas. Um precioso exercício criativo que embala a experiência do ouvinte até os minutos finais da obra, como um campo aberto às possibilidades e direções em estúdio.

Entretanto, na mesma medida em que incorpora novas sonoridade e abre passagem para uma nova fase na carreira da dupla, Forgiveness preserva traços bastante significativos dos primeiros registros autorais produzidos pelo Girlpool. Exemplo disso acontece no refinamento melódico de Dragging My Life Into A Dream. São harmonias de vozes, arranjos aprazíveis e batidas cuidadosamente trabalhadas pelos dois artistas, estrutura que faz lembrar do som produzido por veteranos como Teenage Fanclub. O mesmo acontece na música seguinte, Faultline, canção que vai de encontro ao som empoeirado dos anos 1960.

O mais interessante talvez seja perceber como todos esses elementos, ritmos e formas instrumentais coexistem de forma sempre equilibrada em Forgiveness. Diferente do material entregue em What Caos Is Imaginary, onde algumas composições pareciam desencontradas, Tucker e Tividad amarram esses diferentes extremos da obra de forma detalhista e minuciosa. É quase natural partir do som ruidoso de Country Star para o pop atmosférico de Butterfly Bulletholes. Um precioso exercício criativo que embala com naturalidade a experiência do ouvinte até a música de encerramento do álbum, a crescente Love333.

Pena que muitas dessas composições, como Fautline, foram reveladas ao público ainda no último ano, distanciando o ouvinte de momentos de maior surpresa. Nada que diminua a força dos sentimentos e versos sempre confessionais que apontam a direção seguida pela dupla durante toda a execução do trabalho. São momentos de maior vulnerabilidade, romances passageiros e versos sempre consumidos pela dor. Um delicado exercício criativo que traz de volta tudo aquilo que tem sido explorado desde o introdutório Before the World Was Big, porém, partindo de um novo e curioso direcionamento estético.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.