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Crítica

Glass Animals

: "Dreamland"

Ano: 2020

Selo: Wolf Tone / Polydor / Republic

Gênero: Indie Pop, Pop Rock

Para quem gosta de: Alt-J e Two Door Cinema Club

Ouça: Heat Waves e Tokyo Drifting

5.0
5.0

Glass Animals: “Dreamland”

Ano: 2020

Selo: Wolf Tone / Polydor / Republic

Gênero: Indie Pop, Pop Rock

Para quem gosta de: Alt-J e Two Door Cinema Club

Ouça: Heat Waves e Tokyo Drifting

/ Por: Cleber Facchi 20/08/2020

Existe um momento na carreira de qualquer artistas em que o olhar para o passado e o desejo em reviver memórias da infância fala mais alto. Alguns fazem isso de maneira brilhante em seus trabalhos, como na universalidade do discurso presente nas canções de The Suburbs (2010), cultuado disco do Arcade Fire. Já outros, como o M83, em Junk (2016), se apegam demais à nostalgia dos elementos e estética quase caricatural de um determinado período de tempo, inviabilizando qualquer forma de diálogo com o presente. E é exatamente isso que acontece no terceiro e mais recente álbum de estúdio do Glass Animals, Dreamland (2020, Wolf Tone / Polydor / Republic).

Nascido do confesso desejo do vocalista e líder Dave Bayley em resgatar fragmentos da própria infância, o trabalho concentra em recortes empoeirados da década de 1990 um importante componente criativo para o desenvolvimento das faixas. São inserções frequentes que utilizam de captações em VHS, citações diretas a diferentes exemplares da cultura pop, como Pokémon, Friends e Street Fighter, e todo um universo de referências que apontam para o passado. Um espaço conceitual onde tardes em frente à TV, mundos fantásticos criados na cabeça de uma criança e pequenos conflitos sentimentais se cruzam a todo instante.

Esse álbum é sobre crescer, desde minhas primeiras memórias como uma criança, até agora. É sobre perceber que está tudo bem em não ter as respostas, está tudo bem em não saber exatamente como você se sente e está tudo bem ser e parecer vulnerável“, escreveu Bayley no texto de apresentação do trabalho. É partindo desse conceito que a banda britânica orienta a experiência do ouvinte até o último instante da obra. Da abertura do disco, na introdutória faixa-título (“Aquele primeiro amigo que você teve, aquela pior coisa que você disse / Aquele momento perfeito, aquela última lágrima que você derramou“), até a derradeira Helium (“Nossas fundações estão destinadas a continuar desmoronando / Só porque começamos isso com inocência zero?), tudo gira em torno desse universo particular do vocalista.

São fragmentos poéticos que refletem o desejo de Bayley em explorar as próprias inquietações, conceito que tem sido apresentado desde a estreia com Zaba (2014), mas que acabam se perdendo frente ao excesso de informações, colagens e referências, muitas vezes aleatórias, que surgem e desaparecem durante toda a execução da obra. É como se, comovido pela própria nostalgia, o músico, também produtor do disco, fosse incapaz de organizar as ideias apresentadas no decorrer do trabalho. Instantes em que emoções genuínas dividem espaço com uma série de elementos puramente estéticos.

Exemplo disso acontece em músicas como Waterfalls Coming Out Your Mouth, Melon and the Coconut, e, principalmente, Space Ghost Coast to Coast, sexta faixa do disco. Do título inspirado no programa homônimo exibido pelo Cartoon Network, passando por citações a jogos como GoldenEye 007, Doom e Quake, cada verso parece bombardear o ouvinte com uma infinidade elementos. A própria tentativa de Bayley em emular um rap ao longo da faixa, fazendo menções à obra de Dr. Dre, torna tudo ainda mais confuso. É como se o cantor quisesse se provar a todo momento, como uma criança tentando impressionar um adulto com o máximo de referências possíveis.

O resultado desse processo está na entrega de uma obra confusa e que se repete a todo momento. Um evidente ponto de retrocesso frente ao avanço proposto pela banda durante a produção do álbum anterior, How to Be a Human Being (2016), registro marcado pela criativa colisão de ideias e ritmos cuidadosamente amarrados dentro de estúdio. Mesmo faixas comedidas, como Heat Waves e a inusitada participação de Denzel Curry, em Tokyo Drifting, acabam se perdendo dentro de Dreamland. Falta coerência ou mesmo momentos capazes de romper com a superficialidade proposta pela poesia de Bayley, como ideias aleatórias compiladas a partir de um hiperativo fluxo de pensamento.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.