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Crítica

Grandaddy

: "Blu Wav"

Ano: 2024

Selo: Dangerbird

Gênero: Indie, Pop Psicodélico

Para quem gosta de: Mercury Rev e The Flaming Lips

Ouça: Cabin in My Mind e On a Train or Bus

7.8
7.8

Grandaddy: “Blu Wav”

Ano: 2024

Selo: Dangerbird

Gênero: Indie, Pop Psicodélico

Para quem gosta de: Mercury Rev e The Flaming Lips

Ouça: Cabin in My Mind e On a Train or Bus

/ Por: Cleber Facchi 14/03/2024

Como muito dos compositores com um extenso repertório, Jason Lytle aproveitou do período pandêmico para revisitar a própria criação e apresentar alguns de seus principais trabalhos com o Grandaddy em diferentes formatos, vide as edições comemorativas de The Sophtware Slump (2000) e Sumday (2003). Interessante perceber justamente nesse olhar para o passado um estímulo para o repertório de Blu Wav (2024, Dangerbird), obra que resgata uma série de elementos bastante característico do instrumentista.

Livre de qualquer traço de urgência, como uma fuga do repertório apresentado no antecessor Last Place (2017), Blu Wav é uma obra que destaca o aspecto contemplativo e o sempre solitário processo de criação adotado por Lytle. A própria imagem de capa do disco, com um cowboy e seu cavalo vagando pelo cosmos, funciona como uma boa representação desse resultado. Canções que começam pequenas, evidenciando a economia dos elementos, mas que reservam surpresas e parecem maiores a cada nova audição do ouvinte.

Bem, é uma estrada longa e solitária / Mas há um brilho seguro e amoroso … Indo para a cabana / Para a cabana em minha mente“, canta Lytle em Cabin In My Mind, composição que sintetiza parte dos elementos incorporados tanto na construção dos versos como no sempre meticuloso tratamento dado aos arranjos. São ambientações sutis e bases acústicas que vão de encontro ao cancioneiro norte-americano, mas que estabelecem no uso mágico dos sintetizadores a passagem para um território cósmico e transcendental.

Mesmo quando rompe sutilmente com essa estrutura e aponta para o pop psicodélico da década de 1960, como na graciosa Watercooler, Lytle nunca rompe o que parece ser uma estrutura pré-estabelecida logo nos minutos iniciais do disco. É como se cada composição servisse de passagem para a música seguinte, resultando na formação de um material marcado pela forte unidade entre as faixas. Pinceladas poéticas e instrumentais que resgatam a mesma homogeneidade explícita nas composições de The Sophtware Slump.

Claro que esse direcionamento tem lá seus riscos. Por se tratar de um trabalho que avança em uma medida própria de tempo e partilha de uma forte similaridade na construção dos arranjos, Blu Wav corre o risco de parecer uma obra arrastada para o ouvinte mais apressado. O próprio Lytle contribui ainda mais para esse resultado, investindo na formação de músicas atmosféricas que surgem como pequenos respiros, vide Let’s Put this Pinto on the Moon, mas que acabam estendendo a duração do registro para além do necessário.

A questão é que tudo é tratado de maneira tão delicada por Lytle que é praticamente impossível não se deixar conduzir pelo som arquitetado pelo multi-instrumentista. São hipnóticas camadas de sintetizadores, vozes macias e guitarras que atravessam a atmosfera árida da Califórnia, onde o álbum foi gravado, para viajar pelo espaço. Um minucioso repertório que a todo momento resgata traços das antigas composições do Grandaddy, porém, partindo de uma abordagem parcialmente transformada e que beira o celestial.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.