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Crítica

Grouper

: "Shade"

Ano: 2021

Selo: Kranky

Gênero: Dream Pop, Ambient Pop, Lo-Fi

Para quem gosta de: Juianna Barwick e Julia Holter

Ouça: Pale Interior e Unclean Mind

8.0
8.0

Grouper: “Shade”

Ano: 2021

Selo: Kranky

Gênero: Dream Pop, Ambient Pop, Lo-Fi

Para quem gosta de: Juianna Barwick e Julia Holter

Ouça: Pale Interior e Unclean Mind

/ Por: Cleber Facchi 01/11/2021

O processo criativo de Liz Harris é bastante singular. Mesmo em constante produção, parte expressiva das obras apresentadas pela cantora, compositora e produtora norte-americana costumam ser reveladas ao público após um longo período de gestação. São composições imersas em incontáveis camadas de ruídos e captações caseira, porém, gravadas anos ou mesmo décadas antes de serem organizadas dentro de um trabalho específico. Exemplo disso fica bastante evidente no hoje cultuado Ruins (2014), álbum concebido de forma totalmente espaçada, em diferentes locações dentro de um intervalo de quase dez anos.

Esse mesmo resultado acaba se refletindo nas canções de Shade (2021, Kranky). Sequência ao material entregue em Grid of Point (2018), o trabalho conta com nove composições gravadas por Harris nos últimos 15 anos. São fragmentos sentimentais e poéticos, momentos de maior experimentação e faixas regidas pelo dedilhado acústico, sempre ruidoso, como um complemento aos versos marcados pela força dos sentimentos e histórias vividas pela artista. Instantes em que a cantora preserva a essência dos antigos registros como Grouper, porém, de forma ainda mais sensível, melancólica e deliciosamente reducionista.

E isso fica bastante evidente na sequência composta pela já conhecida Ode To The Blue e Pace Interior. Enquanto os versos parecem delicadamente soprados pela cantora em uma câmara de reverberações etéreas, arranjos minimalistas tratam de ocupar todas as brechas do ambiente enevoado e cinzento que parece típico das criações de Grouper. É como se Harris fosse de encontro aos temas acústicos e confessionais de veteranas da década de 1970, como Karen Dalton e Joni Mitchell, porém, de forma sempre retorcida e particular, como a passagem para um território próprio da musicista norte-americana.

Claro que essa busca por um repertório guiado pela economia dos elementos não interfere na produção de faixas marcadas por momentos de maior experimentação. E isso fica bastante evidente na introdutória Followed the Ocean. Pouco menos de três minutos em que Harris se concentra na produção de um material essencialmente denso e sujo. São vozes submersas, efeitos e distorções que parecem dialogar com as canções apresentadas nos complementares A I A: Dream Loss (2011) e Alien Observer (2011). O mesmo resultado acontece minutos à frente, nas ambientações caóticas que tomam conta de Disordered Minds.

Entretanto, é justamente quando alcança o equilíbrio entre esses dois extremos que o álbum realmente encanta e cresce. Perfeita representação desse resultado acontece na sequência de encerramento do trabalho. Enquanto Basement Mix parte de uma abordagem totalmente etérea para mergulhar em um ambiente de emanações acústicas e formas tangíveis, a derradeira Kelso (Blue Sky) segue o caminho oposto. São captações perfeitamente audíveis, mas que se completam pelo uso de vozes duplicadas e captações atmosféricas que ampliam de maneira bastante sensível o campo de atuação de Harris.

O mais interessante talvez seja perceber como todas essas composições, mesmo gravadas em momentos diferentes da carreira da artista, partilham de uma identidade criativa similar. A própria disposição do repertório no interior do trabalho parece contribuir para esse resultado. São encaixes contrastantes, porém, complementares, estrutura que garante maior fluidez ao registro. É se Harris potencializasse tudo aquilo que foi apresentado em After Its Own Death / Walking In a Spiral Towards The House (2019), última coletânea de inéditas do paralelo Nivhek, porém, de forma ainda mais sensível e íntima do ouvinte.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.