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Crítica

Gruff Rhys

: "Sadness Sets Me Free"

Ano: 2024

Selo: Rough Trade

Gênero: Pop Psicodélico

Para quem gosta de: The Flaming Lips e Mercury Rev

Ouça: Silver Lining Lead Balloons e Celestial Candyfloss

8.0
8.0

Gruff Rhys: “Sadness Sets Me Free”

Ano: 2024

Selo: Rough Trade

Gênero: Pop Psicodélico

Para quem gosta de: The Flaming Lips e Mercury Rev

Ouça: Silver Lining Lead Balloons e Celestial Candyfloss

/ Por: Cleber Facchi 12/02/2024

Pensar em um possível retorno do Super Furry Animals enquanto Gruff Rhys segue com a apresentação de obras tão poderosas quanto Sadness Sets Me Free (2024, Rough Trade) parece cada vez mais difícil. Oitavo e mais recente trabalho de inéditas do cantor e compositor galês em carreira solo, o sucessor do também aclamado Seeking New Gods (2021) mais uma vez destaca o meticuloso processo de criação do artista que não apenas acumula mais de três décadas de atuação em diferentes projetos, como transporta para dentro de estúdio todo esse conhecimento, domínio e fino repertório conquistado a cada nova empreitada criativa.

Com a própria faixa-título como composição de abertura, Rhys apresenta parte dos conceitos e da poesia delirante que orienta a experiência do ouvinte até os minutos finais do material. “Na boate da minha mente, estou usando cocaína no vestiário“, brinca o artista em meio a orquestrações sutis que culminam no refrão agridoce: “Só a tristeza me liberta“. Como tudo aquilo que o compositor tem explorado desde a estreia em carreira solo, Sadness Sets Me Free gira em torno de conflitos particulares e experiências sentimentais que, embora pontuadas pela lírica humorada, evidenciam uma melancolia bastante clara, por vezes sufocante.

Eles estão construindo shoppings até a lua / Mas até o espaço ficou sem espaço“, canta em They Sold My Home To Build a Skyscraper, uma crítica ácida ao capitalismo e à especulação imobiliária, mas que carrega na base ensolarada, por vezes íntima da música brasileira, um importante elemento de contraste. É como se em nenhum momento Rhys permitisse que o trabalho fosse capaz de alcançar uma sobriedade excessiva, conceito que invariavelmente diminui a sensação de impacto e força política explícita nos versos, mas que parece mais do que adequada para a sempre curiosa interpretação do artista galês sobre a música pop.

Exemplo disso fica bastante evidente na já conhecida Silver Lining Lead Balloons. Enquanto os versos da canção destacam a sobriedade do artista (“Não adianta chorar pelo leite derramado / É hora de mudar e a mudança pode te sufocar ou alegrar“), arranjos caprichados parecem apontar para o pop da década de 1960. São melodias e vozes cuidadosamente trabalhadas em estúdio, como se pensadas para grudar na cabeça do ouvinte logo em uma primeira audição. Mesmo composições como I Tendered My Resignation, com seus arranjos calculados, em nenhum momento diminuem o refinamento técnico que orienta o disco.

A exemplo de outros trabalhos produzidas pelo cantor, como Candylion (2007) e American Interior (2014), Sadness Sets Me Free é um disco marcado pelo equilíbrio das formas instrumentais, arranjos e versos. São composições que talvez fossem encaradas como criações menores nas mãos de outros realizadores, mas que parecem perfeitamente moldadas ao universo criativo proposto por Rhys. Da reflexão sobre amizade que ganha forma em Bad Friend, passando pelo delírio psicodélico de Celestial Candyfloss ao fechamento grandioso da derradeira I’ll Keep Singing, tudo parece pensado para encantar e impressionar o ouvinte.

Parte desse resultado vem da experiência e maior controle criativo do artista durante toda a execução do material, mas principalmente do esforço de Rhys em tensionar os limites da própria criação. Ainda que Sadness Sets Me Free utilize de uma série de conceitos poéticos e instrumentais há muito incorporados pelo cantor, evidente é o esmero e maior refinamento aplicado dentro de cada canção. São harmonias de vozes, arranjos de cordas e temas que detalham o comprometimento do músico e seus parceiros em estúdio, elementos que, uma vez organizados, tornam a experiência de ouvir o álbum sempre fascinante.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.