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Crítica

Guerrinha

: "Cidade Grande"

Ano: 2022

Selo: Confuso Editions

Gênero: Jazz

Para quem gosta de: BADBADNOTGOOD e Bruno Bruni

Ouça: Uma Piada Engraçada e Venda Casada Village

7.6
7.6

Guerrinha: “Cidade Grande”

Ano: 2022

Selo: Confuso Editions

Gênero: Jazz

Para quem gosta de: BADBADNOTGOOD e Bruno Bruni

Ouça: Uma Piada Engraçada e Venda Casada Village

/ Por: Cleber Facchi 29/11/2022

Gabriel Guerra, o Guerrinha, segue como um dos nomes mais singulares da cena carioca. Mesmo que grande parte das criações apresentadas pelo cantor, compositor e produtor fluminense apontem para as pistas, vide o vasto acervo construído ao longo da última década com o selo 40% Foda/Maneiríssimo, de tempos em tempos, o ex-integrante de bandas como Dorgas e Séculos Apaixonados se aventura na entrega de obras marcadas pelo forte caráter atmosférico. Foi assim há quatro anos, com a chegada de Wagner (2018), mas que alcança melhor resultado no fino repertório de Cidade Grande (2022, Confuso Editions).

Da mesma forma que o registro que o antecede, o trabalho de oito faixas foi inteiramente concebido a partir de empreitadas noturnas e pequenas experimentações de Guerrinha realizadas depois das sete horas da noite. O resultado desse processo está na entrega de um repertório consumido pela melancolia dos temas e permanente sensação de isolamento, porém, pontuado por momentos de maior euforia. É como se o artista pouco a pouco se despedisse do ambiente soturno que marca o disco anterior para vislumbrar o nascer do dia, direcionamento reforçado no tom avermelhado que se levanta na própria imagem de capa do álbum.

Menos rudimentar em relação ao trabalho anterior, onde muitas das composições se projetavam como esboços, Cidade Grande encanta pela completa fluidez dos elementos e capacidade de Guerrinha em seduzir e conduzir a experiência do ouvinte até os minutos finais do registro. São incontáveis camadas de sintetizadores, instrumentos de sopro gerados artificialmente e batidas abafadas, como uma banda de jazz ouvida do lado de fora de um decadente clube noturno. Canções que se revelam ao público em pequenas doses, sempre misteriosas, como a passagem para um território totalmente particular do músico carioca.

E isso fica bastante evidente na primeira metade do trabalho. Inaugurado pela com sutileza de José, Pt. I, música evoca a melancólica trilha sonora de The Legend of Zelda: Ocarina of Time (1998), Cidade Grande encanta pelo lento desvendar das informações. É como um labirinto de sons e sensações que, vez ou outra, tensiona a experiência do ouvinte, mas em nenhum momento rompe com a serenidade da obra. A própria Adulto Na Cidade Grande, vinda logo em sequência, parece reforçar esse mesmo resultado, abrindo passagem para o tratamento discreto que embala as posteriores Galeria Obsoleta e Noite Cartunesca.

É somente com a chegada de Venda Casada Village, quinta faixa do disco, que Cidade Grande ganha novos contornos e assume diferentes direções criativas. Embora discreta, a composição destaca a capacidade de Guerrinha em jogar com os instantes, brincando com a fragmentação dos sintetizadores e batidas cada vez mais destacadas. É como um ensaio para o material entregue na música seguinte, Uma Piada Engraçada. Instantes em que o compositor fluminense vai de encontro ao mesmo território criativo de nomes como César Camargo Mariano, porém, de forma reducionista e íntima do som torto do restante do trabalho.

Vem justamente dessa economia excessiva dos elementos, proposta justificada pelo próprio processo de criação, o que talvez seja o componente de maior desconforto em Cidade Grande. Se por um lado o reducionismo das batidas e temas instrumentais encanta pelo charme discreto que orienta as canções de Guerrinha, por outro, resulta na entrega de um repertório marcado pela forte similaridade entre as faixas. Felizmente, a curta duração do registro impede que essa aproximação desmedida prejudique o rendimento do álbum, resultado em um material que se projeta de forma misteriosa e atrativa até os minutos finais.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.