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Crítica

Guerrinha

: "Exposi​ç​ã​o Popular"

Ano: 2023

Selo: 2 Headed Deer

Gênero: Jazz

Para quem gosta de: Zopelar e Bruno Bruni

Ouça: Edifício Argentina e Zombeta

7.3
7.3

Guerrinha: “Exposi​ç​ã​o Popular”

Ano: 2023

Selo: 2 Headed Deer

Gênero: Jazz

Para quem gosta de: Zopelar e Bruno Bruni

Ouça: Edifício Argentina e Zombeta

/ Por: Cleber Facchi 17/01/2024

As empreitadas noturnas de Gabriel Guerra continuam rendendo bons frutos. Dois anos após o lançamento do último álbum em carreira solo, Cidade Grande (2022), o cantor, compositor e produtor carioca continua a se aventurar na entrega de um repertório contemplativo com a chegada de Exposi​ç​ã​o Popular (2024, 2 Headed Deer). São canções que seguem a trilha jazzística apontada pelo músico durante a produção de Wagner (2018), porém, pontuadas por momentos de sutil transformação que tanto servem de passagem para um universo íntimo de Guerrinha, como trilham percursos pouco usuais para uma obra do gênero.

Com Tempo Engordando como música de abertura, Guerra mais uma vez apresenta parte dos conceitos que serão revelados ao público no decorrer do trabalho. Da linha de baixo sempre destacada, passando pela insercão dos arranjos e bases que convidam o ouvinte a se perder em um território de emanações labirínticas, cada novo elemento parece servir de estímulo para o movimento seguinte do instrumentista. A diferença em relação ao disco que o antecede está na maior atenção dada à bateria, totalmente fluida, mas que pode se projetar de forma econômica quando necessário, vide a chegada da posterior Boa Definição.

Esse mesmo direcionamento reducionista volta a se repetir na faixa seguinte, A Sétima Doninha, porém, partindo uma abordagem diferente. É como se cada elemento fosse trabalhado em uma medida própria de tempo, sem pressa. Pinceladas instrumentais que surgem e desaparecem a todo momento, como uma releitura etérea dos temas incorporados pelo artista no extinto Dorgas. Nada que Zombeta, vinda logo em sequência, não dê conta de perverter. Pouco mais de quatro minutos em que o músico vai de um canto a outro de forma totalmente imprevisível, vide o insano cruzamento de informações que orienta a bateria.

Passado esse momento de evidente libertação, Edifício Argentina utiliza de uma abordagem talvez regular, mas não menos interessante. Do uso nostálgico do saxofone, como um aceno para a produção da década de 1980, passando pelo refinamento dos teclados e bases que parecem saídos de um antigo comercial de motel, Guerra mais uma vez seduz pela cafajestice de suas criações. São ambientações sutis que seguem de onde o compositor carioca parou no disco anterior sem necessariamente fazer disso o estímulo para um trabalho repetitivo, vide o maior requinte na formação dos arranjos e uso calculado de cada instrumento.

Vem justamente desse minucioso processo de criação o alicerce para a posterior Sala de Espera. Como o próprio título da canção logo aponta, trata-se de um respiro dentro do disco. São teclados, sopros e batidas que se revelam aos poucos, ambientando o ouvinte. Uma vez preparado o terreno, Madrugadas, vinda em sequência, utiliza do mesmo enquadramento, porém, estabelece na formatação dos sintetizadores um necessário componente de renovação, rompendo com a morosidade que aos poucos se apodera do álbum. Uma lenta combinação de estilos que ainda encaminha Exposi​ç​ã​o Popular para seus momentos finais.

Escolhida como composição de encerramento do trabalho, Fantasmas do Destino mais uma vez destaca o andamento rítmico dado à bateria e uso de pequenos acréscimos que levam o disco para outras direções, mas em nenhum momento ultrapassa o que parece ser um limite pré-estabelecido por Guerra. Assim como no registro anterior, muitas das canções partilham de uma similaridade excessiva, tornando o processo de audição do material por vezes desinteressante. Instantes em que o artista ensaia possíveis rupturas na mesma medida em que continua a orbitar o mesmo universo revelado desde o lançamento de Wagner.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.