Ano: 2024
Selo: Independente
Gênero: MPB
Para quem gosta de: Rodrigo Campos e Juliano Gauche
Ouça: Dois Bons Amigos e Amar Sem Dizer
Ano: 2024
Selo: Independente
Gênero: MPB
Para quem gosta de: Rodrigo Campos e Juliano Gauche
Ouça: Dois Bons Amigos e Amar Sem Dizer
Contrapangeia (2024, Independente), da mesma forma que grande parte dos registros de Gui Amabis, é um trabalho que avança aos poucos, como se seguisse uma medida particular de tempo. Enquanto os arranjos se espalham de forma a revelar delicadas paisagens instrumentais, versos sempre calculados funcionam como um passeio pela mente e inquietações do músico paulistano. São momentos de maior vulnerabilidade, tormentos e reflexões pertinentes que se acumulam desde o antecessor Miopia (2018).
Com Certeira Avenida como composição de abertura, Amabis estabelece parte dos elementos que serão incorporados e ampliados no decorrer do trabalho. São econômicos arranjos acústicos que se projetam em uma arquitetura reducionista, direcionamento que tem sido explorado desde o introdutório Memórias Luso / Africanas (2011), porém, partindo de uma abordagem ainda mais sensível e detalhista. Do uso das vozes ao tratamento dado às orquestrações complementares, tudo parece meticulosamente pensado pelo artista.
Claro que essa precisão quase matemática no processo de composição do material em nenhum momento se sobrepõe à força dos sentimentos que florescem dentro de cada canção. “Tanto faz quem se deu, quem sonhou fui eu / Quem vivi e criei, nosso amor doeu / Tanto que desde então tô aqui sem chão“, canta em Amar Sem Dizer, delicada colaboração com Manu Julian, da banda Pelados, e uma representação bastante eficiente da sensibilidade poética e forte caráter emocional que ganha forma e cresce em Contrapangeia.
Entretanto, as emoções explícitas não se limitam apenas aos temas românticos que brilham em momentos estratégicos da obra. É algo muito maior. Exemplo disso fica bastante evidente em Dois Bons Amigos, faixa assinada em parceria com Regis Damasceno em que reflete sobre o peso e acolhimento de uma grande amizade. “A sorte é que tenho dois bons amigos, Zé / Que jogam no improviso, é / E dizem o que é preciso, é”, canta Amabis enquanto os arranjos se revelam aos poucos, como se pensados para envolver o ouvinte.
Surgem ainda composições que se estendem para além dos limites pessoais de Amabis. É o caso de No Brasil. Inaugurada em meio a arranjos de cordas que praticamente sopram os versos, a canção destaca o lirismo político do artista, pintando um retrato sóbrio sobre o (des)governo de Jair Bolsonaro. “Quem lavou a mão nem sequer se ouviu / Ao se entorpecer de sofrer de ser / De ser o espelho de si“, canta. É como um amplo catálogo de ideias, ainda que profundamente equilibrado, indicando o domínio criativo do cantor.
São canções que habitam um mesmo território, resultando em uma obra marcada pela homogeneidade. Claro que isso tem lá seus riscos, vide a similaridade no emprego das vozes e arranjos que partilham de uma abordagem bastante característica, por vezes repetitiva. Instantes em que Amabis parece dar voltas em torno de um mesmo universo criativo, porém, criando pequenos pontos de ruptura, como no encontro com Juçara Marçal, em Nesse Meio Tempo, que aos poucos substituem a regularidade pelo imprevisível.
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.