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Crítica

Guizado

: "Stáretz"

Ano: 2022

Selo: YB Music

Gênero: Jazz, Experimental, Eletrônica

Para quem gosta de: Hurtmold e M. Takara

Ouça: Pode Ser Que Tudo Bem e Agora Vai

7.5
7.5

Guizado: “Stáretz”

Ano: 2022

Selo: YB Music

Gênero: Jazz, Experimental, Eletrônica

Para quem gosta de: Hurtmold e M. Takara

Ouça: Pode Ser Que Tudo Bem e Agora Vai

/ Por: Cleber Facchi 22/07/2022

Dois anos após o lançamento do primeiro trabalho de estúdio, Punx (2008), Guilherme Mendonça, o Guizado, abriu passagem para um universo de novas possibilidades com a entrega de Calavera (2010). Marcado pelo uso de experimentações com a música eletrônica, o álbum parecia apontar a direção seguida pelo trompetista paulistano pelos próximos anos. São registros como O Voo do Dragão (2015) e o atmosférico Guizadorbital (2016), em que o compositor se concentra na formação de texturas sintéticas e atravessamentos rítmicos que mudam de direção a todo instante, tensionando os limites da própria obra.

Mais de uma década após essa importante mudança de direção, Mendonça continua a estreitar a relação com a música eletrônica no fino repertório de Stáretz (2022, YB Music). Produzido e composto quase que inteiramente pelo instrumentista, o registro gerado a partir de sintetizadores, pedais e programações utiliza de uma abordagem completamente distinta em relação ao antecessor O Multiverso em Colapso (2018). Trata-se de um trabalho marcado pelo reducionismo dos elementos e permanente busca por novas possibilidades, produto do isolamento vivido pelo compositor durante o avanço da pandemia de Covid-19.

Quem me conhece sabe que sempre gostei muito de tecnologia dentro da criação musical. É mais um caminho que se abre“, comentou o artista no texto de apresentação do trabalho. E isso fica bastante evidente logo na introdutória Agora Vai. Antes mesmo que o característico trompete de Mendonça seja apresentado ao ouvinte, batidas cíclicas de Mauricio Takara e incontáveis camadas de sintetizadores orientam a construção do material. Pouco mais de dois minutos em o jazzista revela parte dos elementos que serão incorporados, digeridos e lentamente reformulados durante toda a execução do registro.

Mesmo com o caminho apontado logo nos minutos iniciais da obra, Stáretz reserva ao público boas surpresas. Conceitualmente, o trabalho se divide em dois blocos bastante característicos de canções. No primeiro deles, Mendonça se concentra na formação de músicas orientadas pela parcial urgência dos elementos e maior destaque dado às batidas. São composições como Noite e Brain Dance em que o ouvinte é arremessado de um canto a outro, lembrando as criações apresentadas em Calavera. Instantes em que o artista transita por entre estilos de forma sempre provocativa, jogando com a interpretação do público.

Já no restante da obra, Mendonça utiliza de uma abordagem totalmente atmosférica e contemplativa, sempre pontuada por momentos de maior experimentação. Quinta faixa do disco, Olhos de Espelho funciona como uma boa representação desse resultado. Da melancolia soprada pelo trompete do artista, passando pela base ruidosa que ganha forma e cresce ao fundo da canção, tudo parece pensado para envolver o ouvinte. São ambientações labirínticas, por vezes imprevisíveis, estrutura que vai do minimalismo em Pode Ser Que Tudo Bem aos delírios de Zaburêra, colaboração com Maurício Tagliari.

Partindo desse direcionamento, Mendonça apresenta ao público um registro em que costura passado e presente da própria trajetória artística de maneira sempre instigante. Mesmo que parte dos conceitos incorporados em Stáretz tenham sido melhor explorados e originalmente testados em outros trabalhos assinados pelo trompetista, difícil não se deixar conduzir pela experiência proposta ao longo do material. A própria duração do registro, parece contribuir ainda mais para esse resultado. Pouco menos de 30 minutos em que Guizado transita por entre estilos, ritmos e colaboradores em um delirante exercício criativo.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.