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Crítica

Hamilton Leithauser

: "The Loves of Your Life"

Ano: 2020

Selo: Glassnote

Gênero: Indie Pop, Rock, Pop de Câmara

Para quem gosta de: Whitney, Rostam e The Walkmen

Ouça: Isabella e Here They Come

7.3
7.3

Hamilton Leithauser: “The Loves of Your Life”

Ano: 2020

Selo: Glassnote

Gênero: Indie Pop, Rock, Pop de Câmara

Para quem gosta de: Whitney, Rostam e The Walkmen

Ouça: Isabella e Here They Come

/ Por: Cleber Facchi 24/04/2020

Desde que deu início ao trabalho em carreira solo, com o lançamento de Black Hour (2014), Hamilton Leithauser tem encontrado no pop produzido entre o final dos anos 1960 e início da década seguinte a base para cada novo registro autoral. Exemplo disso está nas canções do colaborativo I Had a Dream That You Were Mine (2016), bem-sucedido encontro com Rostam Batmanglij (ex-Vampire Weekend), e um indicativo claro do direcionamento revisionista que embala as criações do músico, também conhecido pelo material como integrante do The Walkmen, banda que lançou seu último registro de inéditas, o excelente Heaven (2012), há quase uma década.

Em The Loves of Your Life (2020, Glassnote), mais recente trabalho de estúdio do músico estadunidense, Leithauser segue de onde parou há quatro anos. Mesmo longe de Batmanglij, o artista continua a revisitar a obra de veteranos como Randy Newman, Brian Wilson e Harry Nilsson de forma sempre autoral. São canções divididas entre versos declamados e vozes fortes, como uma extensão natural de tudo aquilo que o músico tem apresentado desde a estreia com Black Hour ou mesmo em outros projetos paralelos, como no encontro com o ex-parceiro de banda, o músico Paul Maroon, em Dear God (2015).

Composto, produzido e gravado em um estúdio pequeno montado pelo músico em um apartamento de Nova Iorque, The Loves of Your Life parte desse ambiente reduzido para revelar ao público uma obra que parece maior e mais complexa a cada nova audição. São incontáveis camadas instrumentais que se entrelaçam de maneira sempre detalhista, revelando uma colisão de pequenos elementos orquestrados de forma a acompanhar as vozes de Leithauser. Um exercício detalhista que tem início no pop atmosférico de The Garbage Men, faixa de abertura do disco, e segue até a derradeira The Old King, indicativo do completo domínio do artista em relação à própria obra.

De fato, The Loves of Your Life é um trabalho concebido inteiramente a partir das experiências recentes e personagens que tiveram contato com o músico nos últimos anos. “Eu escrevi histórias, escrevi as música e depois as combinei. Nenhuma história foi originalmente planejada para a música com a qual acabou se casando. Todas as histórias são baseadas em algum tipo de verdade, mas não tenho medo de me soltar dos fatos. A maioria é fato e ficção, e algumas se inclinam bastante em qualquer direção“, respondeu em entrevista à Rolling Stone. São crônicas musicadas, cenas curtas e versos marcados pela força dos sentimentos, como uma sequência natural de tudo aquilo que Leithauser tem produzido desde Black Hour.

Exemplo disso está em Isabella, segunda faixa do disco. São pouco mais de quatro minutos em que Leithauser reflete sobre o cotidiano, os excessos e a busca por crescimento pessoal de uma jovem moradora de Manhattan. O mesmo resultado acaba se refletindo mais à frente, em Don’t Check the Score, música concebida a partir de memórias do artista sobre um amigo conhecido no início dos anos 2000. A própria Here They Come, uma das primeiras composições do álbum a serem apresentadas ao público, parte do mesmo direcionamento conceitual. São versos angustiados em que o cantor discorre sobre um personagem e a permanente tentativa de escapar dos próprios problemas.

Com base nessa estrutura, Leithauser entrega ao público uma obra que exige ser desvendada, sem pressa, como se cada composição apresentasse ao público um novo território criativo. Se por um lado esse direcionamento convence nos minutos iniciais, por outro, não há como ignorar o evidente cansaço e histórias pouco expressivas que recheiam a segunda metade do registro. Composições que funcionam dentro do contexto do disco, mas que custam a impressionar quando observadas isoladamente, como se tudo girasse em torno do universo particular proposto pelo músico.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.