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Crítica

Hana Vu

: "Nicole Kidman / Anne Hathaway"

Ano: 2019

Selo: Luminelle Recordings

Gênero: Indie Pop, Pop Rock

Para quem gosta de: Brvnks e Jay Som

Ouça: At The Party, Actress e Outside

7.5
7.5

Hana Vu: “Nicole Kidman / Anne Hathaway”

Ano: 2019

Selo: Luminelle Recordings

Gênero: Indie Pop, Pop Rock

Para quem gosta de: Brvnks e Jay Som

Ouça: At The Party, Actress e Outside

/ Por: Cleber Facchi 19/11/2019

A dualidade explícita logo no título de Nicole Kidman / Anne Hathaway (2019, Luminelle Recordings), EP duplo produzido pela cantora e compositora Hana Vu, funciona como um indicativo claro da identidade musical adotada pela artista norte-americana. De um lado, faixas deliciosamente dançantes, como uma tentativa clara da artista em dialogar com uma parcela maior do público. No outro, a força das guitarras, estrutura que preserva e, ao mesmo tempo, perverte parte da atmosfera detalhada durante o lançamento do antecessor How Many Times Have You Driven By (2018), obra que revelou preciosidades como Crying on the Subway.

Não por acaso, Vu inaugura o disco com a crescente At The Party. Do uso destacado dos sintetizadores à linha de baixo e guitarras marcadas pelo forte aspecto dançante, tudo soa como um convite a se perder pelas pistas de dança. Melodias e vozes cuidadosamente encaixadas, proposta que naturalmente aponta para o som produzido por Mr. Twin Sister, Toro Y Moi e outros nomes recentes que tem se aventurado na produção de um som menos hermético, como uma tentativa clara da artista em se reinventar dentro de estúdio.

Em Actress, faixa de abertura em Anne Hathaway EP, a mesma base referencial. São batidas, guitarras e vozes que se projetam de forma sempre detalhista, ocupando todas as brechas da canção. O destaque acaba ficando para o inusitado uso de metais, como um complemento à fina tapeçaria instrumental que cobra toda a superfície da canção. Instantes em que a musicista norte-americana vai do pop dançante dos anos 1970 ao direcionamento nostálgico que marca o trabalho de artistas como Air France, The Tough Alliance e demais representantes do pop sueco.

Na densa Order, quarta faixa de Nicole Kidman EP, a passagem para um novo universo criativo. Consumida pelos ruídos e guitarras que parecem saídas de algum disco do Pixies, a canção parte dessa estrutura soturna como um estímulo para os versos lançados por Vu. “Estou amaldiçoada, eles me seguram / Eu poderia ser pior / Não tenho memória quando estávamos juntos / Mas eu estou sempre brava, eu estou sempre arrasada“, desaba, como uma propositada fuga do restante da obra. Instantes de profunda entrega sentimental, como um avanço claro em relação ao material entregue em How Many Times Have You Driven By.

Por falar no registro entregue no último ano, não são poucos os momentos em que Vu resgata uma série de elementos originalmente testados no trabalho. Exemplo disso está no pop ensolarado de Outside, canção que reflete a capacidade da musicista norte-americana em lidar com os detalhes. São camadas de vozes e guitarras marcadas pela doce psicodelia, riqueza que também se reflete na faixa mais extensa do disco, Insider. Uma colorida colisão de ideias que mostra o cuidado da artista em ampliar os limites da própria obra.

De essência versátil, estrutura que marca a obra de Hana Vu desde a colaborativa Queen of High School, bem sucedido encontro com Willow Smith, Nicole Kidman / Anne Hathaway transita por entre gêneros, referências e possibilidades de forma curiosa, proposta que torna a experiência de ouvir o trabalho sempre gratificante. Trata-se de um evidente exercício de estilo, como se a multi-instrumentista norte-americana jogasse com as ideias a cada nova composição, deixando um caminho aberto para os futuros lançamentos.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.