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Crítica

Hannah Diamond

: "Perfect Picture"

Ano: 2023

Selo: PC Music

Gênero: Pop

Para quem gosta de: Charli XCX e A. G. Cook

Ouça: Perfect Picture e Poster Girl

7.2
7.2

Hannah Diamond: “Perfect Picture”

Ano: 2023

Selo: PC Music

Gênero: Pop

Para quem gosta de: Charli XCX e A. G. Cook

Ouça: Perfect Picture e Poster Girl

/ Por: Cleber Facchi 31/10/2023

Com o anúncio do fim das atividades da PC Music envolvendo o lançamento de novos trabalhos a partir do próximo ano, diferentes artistas têm se articulado para revelar ao público suas últimas criações pelo selo britânico. É o caso da cantora e compositora Hannah Diamond. Um dos nomes mais representativos da gravadora, a artista que serviu de rosto para alguns dos registros iniciais do projeto retorna agora com o melancólico Perfect Picture (2023, PC Music). São doze composições em que versos sempre consumidos pela potência dos sentimentos se completam pelo uso de pequenas experimentações com a música pop.

Pela primeira vez desacompanhada de A. G. Cook, com quem desenvolveu grande parte de suas criações, incluindo o introdutório Reflections (2019), Diamond encontra na produção do experiente David Gamson (Kelly Clarkson, Charli XCX) um misto de continuidade e fino toque de renovação. São ambientações sutis e bases reducionistas de sintetizadores que potencializam o que talvez seja o principal componente criativo do trabalho: as emoções da cantora. É como um delicado exercício de exposição sentimental, conceito que embala com naturalidade a experiência do ouvinte até os momentos finais do registro, em Unbreakable.

Você gostaria de ser real? / Você se sente como eu me sinto? / Como se você nunca fosse suficiente“, canta em Poster Girl, música em que parte de um monólogo com uma garota estampada no pôster de uma revista para mergulhar nas próprias inseguranças, dores e conflitos pessoais. Frações poéticas que funcionam como um passeio pela mente da artista, ampliando de forma ainda mais sensível tudo aquilo que Diamond havia testado no disco anterior. “Eu quero que você saiba quem eu sou“, reforça na composição seguinte, Want You To Know, outra importante representação do lirismo angustiado que serve de sustento ao álbum.

Embora doloroso e ainda conectado aos temas explorados no disco anterior, o que resulta em pequenas repetições, Perfect Picture tem seus momentos de maior libertação. Exemplo disso pode ser percebido em Affirmations. Enquanto batidas e sintetizadores se projetam de forma crescente, rompendo com a calmaria presente no restante do material, versos entusiasmados servem como um reforço positivo aos sentimentos compartilhados pela cantora. “Eu sou a garota que é muito mais do que você pode ver / A garota que dá seu tempo e energia / A garota que é tudo o que ela quer ser / Eu posso ser uma pessoa melhor“, celebra.

Vem dessas pequenas oscilações a real beleza do repertório Perfect Picture. São instantes de melancolia que antecedem momentos de vívida euforia poética e instrumental. Perfeita representação desse resultado pode ser percebida na sequência formada por Staring At The Ceiling e Twisted. Enquanto a primeira faixa avança em uma medida própria de tempo, destacando a força dos sentimentos, com a canção seguinte, Diamond mais uma vez estreita laços com o pop, levando o disco para outra direção. O resultado desse processo está na entrega de uma obra sempre equilibrada, como uma representação da alma da artista.

Ainda assim, não há como ignorar alguns problemas bastante pertinentes durante toda a execução do trabalho, como a limitação vocal da cantora e uso de estruturas bastante similares em parte expressiva das canções. São sintetizadores e batidas que partilham de uma abordagem bastante característica, estrutura que naturalmente reforça o caráter homogêneo e consistência da obra, porém, ecoa de forma repetitiva, ainda mais quando voltamos os ouvidos para outros nomes próximos, como Caroline Polachek e Charli XCX. Para o bem ou para o mal, um registro que serve de passagem para um universo particular da artista.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.