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Crítica

Haru Nemuri

: "春火燎原 (Shunka Ryougen)"

Ano: 2022

Selo: TO3S Records

Gênero: J-Rock, Art Pop

Para quem gosta de: Daoko, Parannoul e CHAI

Ouça: Never Let You Go e Shunka Ryougen

8.0
8.0

Haru Nemuri: “春火燎原 (Shunka Ryougen)”

Ano: 2022

Selo: TO3S Records

Gênero: J-Rock, Art Pop

Para quem gosta de: Daoko, Parannoul e CHAI

Ouça: Never Let You Go e Shunka Ryougen

/ Por: Cleber Facchi 03/05/2022

Cantora, compositora e produtora de Yokohama, no Japão, Haru Nemuri conseguiu atrair a atenção do público e imprensa quando, há quatro anos, deu vida ao primeiro trabalho de estúdio da carreira, Haru to Shura (2018). Marcado pela criativa combinação de elementos que vai do rap ao hardcore, do pop ao uso de pequenas experimentações, o registro transita por entre estilos de forma sempre curiosa e imprevisível, indicativo da completa versatilidade da artista que busca ampliar ainda mais esse resultado com a chegada do segundo e mais recente álbum de inéditas, 春火燎原 (Shunka Ryougen) (2022, TO3S Records).

Obra de contrastes, como tudo aquilo que Nemuri tem produzido desde os primeiros registros autorais, Shunka Ryougen – em português, algo como “o fogo de primavera iluminando o campo em chamas” –, oscila entre momentos de maior calmaria e faixas deliciosamente caóticas. É como se a artista testasse os próprios limites dentro de estúdio, direcionamento que acaba se refletindo na longa duração do material. São 21 faixas que se espalham em um intervalo de mais de 60 minutos. Canções que encolhem e crescem a todo instante, sempre de maneira inusitada, garantindo maior fluidez e evidente dinamismo ao material.

Exemplo disso fica bastante evidente na sequência de abertura do trabalho. Em um intervalo de poucos minutos, Nemuri parte da delicadeza expressa na introdutória Sanctum Sanctorum para mergulhar no experimentalismo de Déconstruction, música que ainda abre passagem para um dos momentos de maior turbulência do disco, a intensa Never Let You Go. Um ziguezaguear de ideias que segue de onde a artista parou durante a produção do álbum anterior, porém, de forma ainda mais interessante, conceito reforçado no maior refinamento dado aos arranjos e incontáveis camadas instrumentais que abastecem o registro.

Perfeita representação dessa insana combinação de elementos ecoa de forma bastante expressiva na faixa-título do disco. São pouco mais de quatro minutos em que Nemuri parte do uso orquestral dos vocais, incorpora captações de campo e versos semi-declamados que abrem passagem para o uso ruidoso das guitarras e vozes cada vez mais berradas. A própria canção seguinte, Seventh Heaven, mesmo partindo de um acabamento melódico que utiliza de elementos da música pop, em nenhum momento tende ao óbvio. É como se cada mínimo movimento da artista transportasse o ouvinte para um novo território criativo.

Mesmo marcado pela permanente convergência de ideias, ritmos e temáticas pouco usuais, Shunka Ryougen está longe de parecer uma obra desorganizada. Assim como acontece em Haru to Shura, a artista se apoia no uso de elementos que buscam aproximar as canções. São arranjos de cordas, timbres e estruturas vocais que se repetem durante toda a execução do registro. Mesmo a construção dos versos, centrados em conflitos pessoais e traumas recentes vividos pela cantora, parece contribuir para esse resultado. Composições que transitam com liberdade por entre estilos, mesmo de forma homogênea.

Se por um lado essa forte relação entre as músicas concede identidade e força ao trabalho, por outro, tende a desgastar a experiência do ouvinte, principalmente na segunda metade do disco, quando algumas dessas ideias acabam se repetindo. O próprio volume excessivo de canções e uso exaustivo de interlúdios contribui ainda mais para esse resultado. É como uma tentativa da artista em replicar de forma ampliada a estrutura utilizada do disco anterior. Um exagero deliberado que estende a duração do registro para além do necessário, mas que em nenhum momento diminui a potência do material entregue por Nemuri.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.