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Crítica

Helado Negro

: "Far In"

Ano: 2021

Selo: 4AD

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Sufjan Stevens e Lido Pimienta

Ouça: Gemini and Leo e There Must Be a Song Like You

8.0
8.0

Helado Negro: “Far In”

Ano: 2021

Selo: 4AD

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Sufjan Stevens e Lido Pimienta

Ouça: Gemini and Leo e There Must Be a Song Like You

/ Por: Cleber Facchi 04/11/2021

Desde que deu vida ao delicado Private Energy (2016), Roberto Carlos Lange tem se especializado na produção de obras marcadas pelo forte teor atmosférico e profunda sensibilidade na construção dos versos. Composições ancoradas em memórias da infância, momentos de maior vulnerabilidade e versos sempre afetuosos, como a passagem para um ambiente de acolhimento e doce contemplação. Exemplo disso fica bastante evidente em Far In (2021, 4AD), mais recente criação do músico estadunidense como Helado Negro e uma extensão natural de tudo aquilo que tem produzido ao longo da última década.

Sequência ao material entregue em This Is How You Smile (2019), o trabalho segue exatamente de onde Lange parou há dois anos, porém, estabelece na construção dos versos um precioso componente de mudança e renovação. Enquanto no disco anterior o músico nascido na Flórida parecia flutuar em meio a arranjos eletroacústicos e recordações da comunidade de imigrantes equatorianos onde cresceu, em Far In, o multi-instrumentista vai além. São canções marcadas pelo forte aspecto sentimental, confissões românticas e inquietações que funcionam como um delicado passeio pela mente do próprio compositor.

E isso fica bastante evidente nos minutos iniciais do trabalho, na sequência composta pela já conhecida Gemini and Leo e Purple Tones. São pouco menos de oito minutos em que o músico-americano transforma os sentimentos pela própria esposa no estímulo para a construção dos versos. “E tudo que me importa é você“, repete Lange, como um mantra. A mesma delicadeza acaba se refletindo minutos à frente, em There Must Be A Song Like You, composição que não apenas sintetiza o forte aspecto sentimental da obra, como a leveza e fino trato dos instrumentos que se espalham com delicadeza até a derradeira Mirror Talk.

São ambientações sutis, batidas sempre econômicas, incontáveis camadas de sintetizadores e vozes ecoadas, como um instrumento complementar. Instantes em que Lange preserva tudo aquilo que foi apresentado em Private Energy e This Is How You Smile, porém, de forma ainda mais sensível, detalhista e homogênea. Perceba como o músico em nenhum momento ultrapassa o que parece ser um limite criativo bastante específico. Canções que se espalham em meio a reverberações acolhedoras, como se pensadas para confortar o ouvinte, marca de músicas como a labiríntica Wind Conversation e Thank You For Ever.

Mesmo quando perverte parte dessa estrutura e se permite provar de novas possibilidades dentro de estúdio, Lange em nenhum momento perverte a leveza que serve de sustento ao trabalho. Perfeita representação desse resultado acontece em Outside The Outside. Enquanto batidas eletrônicas apontam para a obra de Arthur Russell, vozes macias se revelam ao público em uma medida própria de tempo, sem pressa. A mesma proposta, porém, partindo de uma abordagem parcialmente distinta, define os rumos de La Naranja, música de essência latina que mais se aproxima do material entregue no disco anterior.

Uma vez imerso nesse cenário marcado pela sutileza dos elementos, Lange aproveita para estreitar a relação com diferentes colaboradores. É o caso de Kacy Hill, na introdutória Wake Up Tomorrow, a dupla porto-riquenha Buscabulla, em Agosto, e o músico Benamin, na delicada Telescope. São interferências pontuais que ampliam com naturalidade os horizontes do registro, mas que em nenhum momento se distanciam da trilha apontada pelo artista logo nos minutos iniciais do registro. Uma doce combinação de elementos que, mais uma vez, evidenciam a riqueza e consistência da obra de Helado Negro.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.