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Crítica

Helena Deland

: "Someone New"

Ano: 2020

Selo: Luminelle Recordings

Gênero: Indie, Art Pop, Rock

Para quem gosta de: Tomberlin, Jessica Pratt e Lucy Dacus

Ouça: Someone New e Comfort, Edge

8.0
8.0

Helena Deland: “Someone New”

Ano: 2020

Selo: Luminelle Recordings

Gênero: Indie, Art Pop, Rock

Para quem gosta de: Tomberlin, Jessica Pratt e Lucy Dacus

Ouça: Someone New e Comfort, Edge

/ Por: Cleber Facchi 09/12/2020

Estranho pensar que Someone New (2020, Luminelle Recordings) seja apenas o primeiro álbum de Helena Deland. Partindo de um lento, porém, contínuo processo de criação, a cantora e compositora canadense passou grande parte da última década revelando ao público uma seleção de obras e músicas avulsas marcadas pelo forte aspecto emocional e reducionismo dos arranjos. São fragmentos instrumentais e poéticos que se espalham pela série de registros intitulada Altogether Unaccompanied (2018) ou mesmo no introdutório Drawing Room (2016). Canções que utilizam de memórias e experiências sentimentais como principal componente criativo da artista.

É partindo justamente desse mesmo direcionamento temático que Deland orienta a experiência do ouvinte durante toda a execução da obra. “Se eu pudesse ter todos os pensamentos / Como se fosse a primeira vez / Eu jamais ficaria doente com os padrões da minha mente / Mas eu estou presa“, canta na introdutória faixa-título, composição que sintetiza parte das angústias e temas abordados pela cantora ao longo do trabalho. São reflexões sobre saúde mental, relacionamentos fracassados e instantes em que a artista transforma o próprio sofrimento em um importante componente de diálogo com o ouvinte, convidado a reviver momentos de maior melancolia.

Com cada pequena coisa que você quer fazer / Pode não ser você para mim, mas sou eu para você / E eu odeio ser seu cachorro“, desabafa em Dog. São versos sempre intimistas, por vezes viscerais, como se Deland ampliasse tudo aquilo que tem sido produzido desde Drawing Room. Canções que passeiam por uma série de conflitos vividos pela cantora, conceito que se reflete com naturalidade até a derradeira Fill The Rooms. “Agora que você me deixou / Você me permite entrar na sua cabeça / Você se permite esquecer? / Eu estava lá e queria música“, confessa enquanto resgata memórias de um passado ainda recente, reforçando a carga emocional que rege o disco.

O que difere Someone New de outros registros apresentados pela cantora talvez seja a maior pluralidade de ritmos incorporados ao longo da obra. E isso se reflete com naturalidade logo nos primeiros minutos do trabalho. Da fluidez presente nas guitarras, passando pelo uso destacado das batidas, tudo surge como um complemento aos versos e sentimentos detalhados por Deland. Exemplo disso pode ser percebido em Comfort, Edge, música que prova de uma sonoridade cada vez mais acessível, por vezes íntima do material entregue por Empress Of e outros nomes importantes do gênero. Instantes em que a artista preserva e perverte a própria identidade criativa.

Entretanto, mesmo buscando por novas possibilidades dentro de estúdio, Deland em nenhum momento se distancia dos temas atmosféricos que fizeram dela conhecida. São faixas como Fruit Pit, The Walk Home e demais composições que ganham forma em meio a orquestrações sublimes, sintetizadores atmosféricos e guitarras sempre pontuais, como se pensadas para envolver o ouvinte. A própria faixa de encerramento do disco, Fill The Rooms, soa como uma extensão natural de tudo aquilo que a cantora tem produzido desde o início da carreira. São camadas de mais camadas que assentam lentamente, indicativo do completo esmero e entrega da artista.

Dividido entre momentos de maior experimentação e faixas marcadas pelo caráter acessível dos temas, Someone New se apresenta ao público como uma obra essencialmente equilibrada. É como se Deland resgatasse uma série de elementos que fizeram dela um dos nomes mais curiosos da novíssima cena canadense, porém, partindo de uma nova abordagem criativa, conceito reforçado logo no título do álbum. Canções que transitam por diferentes propostas, porém, sustentam no romantismo agridoce e versos confessionais um forte elemento de aproximação que conduz a experiência do ouvinte do início ao fim do trabalho.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.