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Crítica

The Raconteurs

: "Help Us Stranger"

Ano: 2019

Selo: Third Man Records

Gênero: Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: The Dead Weather e The Black Keys

Ouça: Help Me Stranger e Now That You're Gone

7.0
7.0

“Help Us Stranger”, The Raconteurs

Ano: 2019

Selo: Third Man Records

Gênero: Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: The Dead Weather e The Black Keys

Ouça: Help Me Stranger e Now That You're Gone

/ Por: Cleber Facchi 28/06/2019

O sinal verde estampado na imagem de capa de Help Us Stranger (2019, Third Man Records), terceiro álbum de estúdio do The Raconteurs, funciona como um convite a se perder pelas canções assinadas em conjunto por Brendan Benson (voz, guitarra e percussão) e Jack White (voz, guitarra e piano). Primeiro trabalho de inéditas do grupo em 11 anos, o registro completo pela presença dos músicos Jack Lawrence (baixo, guitarra, sintetizadores) e Patrick Keeler (bateria, percussão) não apenas perverte tudo aquilo que o quarteto havia testado anteriormente, como se permite avançar e provar de novos conceitos, ritmos e propostas criativas.

Exemplo disso ecoa com naturalidade logo nos primeiros minutos do álbum, em Help Me Stranger. Inaugurada em meio a versos empoeirados que emulam um antigo disco de vinil, a canção parte desse conceito nostálgico para mergulhar em um registro moderno e atualizado. Da inserção de guitarras eletrônicas, passando pela clareza na formação das batidas, poucas vezes antes o som produzido pelo The Raconteurs pareceu dialogar com o presente de forma tão expressiva.

Em Hey Gyp (Dig The Slowness), sétima faixa do disco, a mesma tentativa de adaptar o passado ao presente. Trata-se de uma releitura da música de mesmo nome originalmente lançada em 1965 pelo britânico Donovan. Enquanto a versão entregue há cinco décadas sobrevivia apenas da voz e parcos acordes do artista inglês, nas mãos do Raconteurs, a canção ganha ritmo e cresce. Do uso destacado das guitarras ao insano fechamento com uma gaita harmônica, evidente é o esforço do grupo em garantir novo tratamento à canção.

Mesmo partindo desse conceito transformador, interessante perceber em faixas como Only Child uma tentativa clara da banda em replicar o passado de forma puramente referencial. São melodias e versos descomplicados, estrutura que ganha ainda mais destaque na dolorosa Now That You’re Gone. “E quem vai te amar se não for eu? / Nunca soube de tal infelicidade / Nunca pensei que acabaria assim / O que eu vou fazer agora que você se foi?“, questiona em meio a guitarras que ora apontam para a obra do Led Zeppelin, ora fazem lembrar os instantes de maior melancolia explícitos na obra do Black Sabbath.

Partindo dessa criativa colagem de referências, músicas como Don’t Bother Me acabam transportando o som produzido pela banda para um novo território criativo. Difícil não lembrar de veteranos como Queen, efeito direto do coro de vozes duplicadas, além, claro, de incontáveis quebras rítmicas. Na enérgica Live a Lie, guitarras e batidas rápidas que fazem lembrar os trabalhos de Brendan Benson em carreira solo. Mesmo Thoughts and Prayers, com suas reverberações acústicas que apontam para Consolers of the Lonely (2008), último álbum de estúdio da banda, se permite provar de melodias psicodélicas pouco usuais na carreira da quarteto.

Possivelmente o registro mais versátil de Jack White desde o fim das atividades no The White Stripes, Help Us Stranger supre o direcionamento simplista dado aos versos pela rica base instrumental que orienta a experiência do ouvinte até o último instante da obra. Trata-se de um álbum claramente pensada para atender às exigências do público fiel da banda, estrutura que se reflete na firmeza das guitarras, melodias e arranjos empoeirados que apontam para diferentes épocas e tendências de forma sempre particular.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.