Ano: 2025
Selo: Independente
Gênero: Pós-Rock, Art Rock
Para quem gosta de: Black Country, New Road e Swans
Ouça: Postparto, Anova e Yo La Tengo
Ano: 2025
Selo: Independente
Gênero: Pós-Rock, Art Rock
Para quem gosta de: Black Country, New Road e Swans
Ouça: Postparto, Anova e Yo La Tengo
Os pouco mais de dez minutos da introdutória Postparto são essenciais para entender tudo aquilo que os chilenos do Hesse Kassel buscam desenvolver no primeiro trabalho de estúdio da carreira, La Brea (2025, Independente). Enquanto camadas de guitarras e batidas irregulares trilham um percurso torto, a intensa dramaticidade aplicada pelo vocalista e líder Renatto Olivares faz dos versos que tratam sobre elementos simples do cotidiano o estímulo para um material essencialmente catártico, evidenciando a força do grupo.
Com o ouvinte ambientado e possivelmente atordoado pela experiência proposta pelo sexteto, Olivares e seus companheiros de banda abrem passagem para um dos repertórios mais avassaladores da produção chilena recente. São quase 80 minutos em que somos arremessados de um canto a outro da obra e sempre confrontados pela poética oblíqua que vai de personagens dúbios a medos e outros conflitos existenciais.
Claro que nesse processo a banda acaba confessando algumas de suas principais referências criativas de maneira nada sutil, diminuindo a sensação de impacto e originalidade em torno do material. São ecos de Black Midi, Swans, Slint e, principalmente, Black Country, New Road, efeito da forte similaridade entre as vozes e até mesmo o jeito de cantar de Olivares e Isaac Wood. Nada que diminua a potência do trabalho.
Feito para ser absorvido e saboreado aos poucos, como goles moderados de uma bebida cara, La Brea é uma obra que faz de cada composição um objeto precioso. Em geral, são canções que se estendem pelo tempo necessário para ambientar, surpreender, corromper e, por fim, despejar o ouvinte. Um intrincado jogo de sensações que vai do refinamento aplicado aos arranjos às vozes sempre declamadas de Olivares.
Em Anova, por exemplo, enquanto os versos detalham a sensação de abandono sentida pelo personagem central, coros de vozes, batidas e arranjos caprichados estabelecem uma atmosfera de acolhimento. Nada que prejudique a entrega de faixas que caminham em um sentido oposto, como a derradeira Yo La Tengo, composição que evoca as criações de Michael Gira, porém, preservando a identidade criativa do sexteto.
Mais do que um exercício de experimentação, La Brea se revela como um trabalho de contrastes, onde a vulnerabilidade dos versos se entrelaça à grandiosidade dos arranjos. São combinações improváveis que garantem ao ouvinte um repertório denso, emocionalmente impactante e deliciosamente instável. Canções que, mesmo apontando a direção em seus minutos iniciais, acabam trilhando um caminho imprevisível.
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.