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Crítica

Hikaru Utada

: "Bad Mode"

Ano: 2022

Selo: Epic

Gênero: Pop, R&B, Dance

Para quem gosta de: Ayumi Hamasaki e Yukika

Ouça: Bad Mode e One Last Kiss

7.6
7.6

Hikaru Utada: “Bad Mode”

Ano: 2022

Selo: Epic

Gênero: Pop, R&B, Dance

Para quem gosta de: Ayumi Hamasaki e Yukika

Ouça: Bad Mode e One Last Kiss

/ Por: Cleber Facchi 27/01/2022

Dona de um vasto repertório que se espalha pelas últimas três décadas, Hikaru Utada atraiu uma parcela ainda maior do público quando, em março do último ano, One Last Kiss alcançou o topo das paradas japonesas, vendeu mais de 200 mil cópias e conquistou outras posições de destaque ao redor do mundo. Lançada para promover a animação de Evangelion: 3.0+1.0 Thrice Upon a Time (2021), último filme da franquia Rebuild of Evangelion, projeto em que esteve envolvida desde 2007, quando apresentou Beautiful World, a canção produzida em parceria com A. G. Cook, uma das mentes por trás da PC Music, e Nariaki Obukuro, com quem havia colaborado anteriormente, era apenas o princípio de uma obra ainda maior.

Em Bad Mode (2022, Epic), 11º trabalho de estúdio, Utada não apenas preserva parte dos elementos apresentados nas últimas composições, como potencializa esse resultado. Diferente do registro anterior, em que assumiu de forma solitária a produção e parte dos arranjos que abastecem o disco, com o presente álbum, a cantora e compositora que nasceu em Nova Iorque e cresceu no Japão se permite estreitar a relação com uma série de novos parceiros. São nomes como Skrillex e Poo Bear, com quem colaborou na já conhecida Face My Fears, parte da trilha sonora do jogo Kingdom Hearts III (2019), e principalmente o britânico Sam Shepherd, do Floating Points, com quem divide algumas das principais criações do material.

Vem justamente desse encontro com Shepherd o estímulo para a autointitulada música de abertura. Com pouco mais de cinco minutos de duração, a faixa traz de volta o refinamento explícito em diferentes exemplares do pop japonês dos anos 1970 e 1980, porém, partindo de uma linguagem essencialmente atualizada. São incontáveis camadas instrumentais que vão do piano Rhodes utilizado no ainda recente Promises (2021), último disco do Floating Points, à construção das batidas, estrutura que se completa pela poesia sempre confessional de Utada. “Eu não posso deixar você ir / Eu só quero mais de você“, detalha.

É dentro desse mesmo território criativo, sempre transitando entre passado e presente, que Utada desenvolve algumas das composições mais significativas do registro. É o caso de Not in the Mood. Também produzida em parceria com Shepherd, a música parte de uma base típica do trip-hop dos anos 1990, porém, cresce em meio a diálogos com o R&B e momentos de maior experimentação, conceito reforçado nos momentos finais da canção. A mesma riqueza de detalhes acontece em Kimi ni Muchū. Reencontro com Cook, a faixa ganha forma em meio a pianos entristecidos, íntimos do material apresentado em One Last Kiss, porém, adornados por entalhes sintéticos que parecem típicos da obra do produtor britânico.

Uma vez imerso nesse cenário, mesmo música já conhecidas, como Time, ganham novo significado. Originalmente apresentada como parte do drama Bishoku Tantei Akechi Goro (2020), a faixa cresce de forma bastante expressiva quando próxima de outras composições apresentadas ao longo do disco. Da construção dos versos ao tratamento dado aos arranjos, tudo parece orbitar o mesmo universo criativo. Canções que transitam entre as pistas e o doce recolhimento, estrutura que embala a experiência do ouvinte até a faixa de encerramento, Somewhere Near Marseilles, com quase 12 minutos de duração.

Mesmo consistente e capaz de ressignificar diversas faixas já conhecidas do público, Bad Mode peca pela ausência de surpresa. Com exceção da introdutória faixa-título e Kimi ni Muchū, poucas composições apresentadas ao longo da obra parecem replicar o impacto de músicas como One Last Kiss e Time. Já outras, como a requentada Face My Fears, mesmo interessante quando do observada isoladamente, ecoa de maneira deslocada do restante do álbum, trazendo ao disco um atmosfera de coletânea. É como se Utada, na pressa de fechar um repertório após a boa repercussão dos últimos lançamentos, cometesse uma série de pequenos equívocos, diminuindo o alcance e força de um trabalho que poderia ser ainda maior.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.